quarta-feira, 25 de setembro de 2019

37º dia – Os Anjos na vida de alguns santos – Parte 1





O Anjo da Guarda acompanha sempre a cada um de nós. Poucas pessoas, contudo, recebem a graça de poder sentir fisicamente a presença desse protetor.
Nossos Anjos guardiães estão ao lado de cada um de nós, incansáveis, solícitos, bondosos, prontos a nos ajudar em tudo quanto precisarmos, quer sejam necessidades materiais ou espirituais. Vejamos alguns exemplos de pessoas favorecidas com a graça de ver o seu Anjo da Guarda e com ele conversar repetidas vezes ao longo da vida.
Por certo, em nossos conturbados dias, isso contribuirá para aumentar em nós a devoção ao nosso melhor amigo, e nos estimulará a recorrermos com mais empenho ao seu concurso.                                                                         

Santa Gemma Galgani
Santa Gemma Galgani (1878-1903) teve a constante companhia de seu Anjo protetor, com quem mantinha um trato familiar. Ela o via, rezavam juntos, e ele até mesmo deixava que ela o tocasse. Enfim, Santa Gemma tinha seu Anjo da Guarda na condição de um amigo sempre presente. Ele lhe prestava todo tipo de ajuda, até mesmo levando mensagens para seu confessor, em Roma.

Este sacerdote, o padre Germano de Santo Estanislau, da Ordem dos Passionistas, fundada por São Paulo da Cruz, deixou narrado o convívio de Santa Gemma com seu celeste protetor: "Frequentes vezes ao perguntar-lhe eu se o Anjo da Guarda permanecia sempre no seu posto, ao lado dela, Gemma voltava-se para ele com um à vontade encantador e logo ficava num êxtase de admiração todo o tempo que o fixava". Ela o via durante todo o dia. Ao dormir pedia-lhe que velasse à cabeceira da cama e que lhe fizesse um sinal da Cruz na fronte. Quando despertava, pela manhã, tinha a imensa alegria de vê-lo a seu lado, como ela mesma contou a seu confessor: "Esta manhã, quando acordei, lá o tinha junto de mim".

Quando ia se confessar e precisava de auxílio, sem demora seu Anjo a ajudava, segundo conta: "[Ele] me traz ao espírito as ideias, dita-me até algumas palavras, de forma que não sinto dificuldade em escrever". Além disso, seu Anjo da Guarda era um sublime mestre de vida espiritual, ensinando-a como proceder retamente: "Lembra-te, minha filha, que a alma que ama a Jesus fala pouco e abnega-se muito. Ordeno-te, da parte de Jesus, que nunca dês o teu parecer se não te for pedido, e que não defendas a tua opinião, mas que cedas logo". E ainda acrescentava: "Quando cometeres qualquer falta, acusa-te logo dela sem esperares que te interroguem. Enfim, não te esqueças de resguardar os olhos, porque os olhos mortificados verão as belezas do Céu".

Apesar de não ser religiosa, levando uma vida comum, Santa Gemma Galgani desejava, entretanto, consagrar-se de maneira mais perfeita ao serviço de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porém, como às vezes pode acontecer, o simples anseio de santidade não basta; é preciso a sábia instrução de quem nos guia, aplicada com firmeza. E assim acontecia a Santa Gemma. Seu suavíssimo e celeste companheiro, que a todo tempo estava sob seu olhar, não colocava de lado a severidade quando, por algum deslize, sua protegida deixava de seguir as vias da perfeição. Quando, por exemplo, resolveu usar algumas joias de ouro, com certo comprazimento, para visitar um parente de quem as havia recebido de presente, ouviu uma salutar admoestação de seu Anjo, ao regressar a casa, que a olhava com severidade: "Lembra-te que os colares preciosos, para enfeite da esposa de um Rei crucificado, só podem ser seus espinhos e sua Cruz". Fosse qual fosse a ocasião em que Santa Gemma se desviasse da santidade, logo uma angélica censura se fazia ouvir: "Não tens vergonha de pecar na minha presença?". Além de custódio, bem se vê que o Anjo da Guarda desempenha o excelente ofício de mestre de perfeição e modelo de santidade.

O texto abaixo é do Revmo. Pe. Germano de Santo Estanislau C.P., diretor espiritual de Santa Gemma.

Dado que Gemma encontrava-se predestinada a um grau muito elevado de felicidade celestial, era natural e conforme à Sabedoria divina que o Anjo nomeado para sua guarda tivesse dela um cuidado muito especial. A graça, que se manifestava além disso nesta alma afortunada em fenômenos tão prodigiosos, ia tomar corpo, de uma maneira não menos prodigiosa, na assistência do seu bom Anjo. (...)

Mais impressionante, neste suave comércio, era a presença sensível e quase contínua do Anjo. Gemma via-o através de seus olhos corporais, tocava-o pelas suas mãos, como uma pessoa viva, vinculava conversação com ele como com um amigo. “Jesus, escrevia-me, não o vejo há seis dias; mas não me deixou completamente só; o Anjo da Guarda continua de pé, visível, perto de mim.” Com quanta efusividade dava graças a Deus por este benefício, e testemunhava ao espírito que a protegia o seu reconhecimento! “Se algumas vezes sou má, caro Anjo, não se zangue; quero mostrar-lhe minha gratidão. / Sim, respondia o guarda celestial, serei o teu guia e o teu companheiro inseparável.”

O Anjo da Guarda de Gemma a vigiava, fazia-lhe café, explicava-lhe os Mistérios, abraçava-a, mas sobretudo ajudava-a melhor sofrer por amor a Cristo.
“O Anjo olhava-me, assim, afetuosamente! E quando chegou o momento de partir, enquanto aproximava-se de mim para beijar minha fronte, pedi que não me deixa-se ainda. Mas ele me disse:
- É necessário que eu vá!
- Então vá e saúda Jesus.
“Lançou-me um último olhar, dizendo-me:
“Não quero mais que você mantenha conversações com as criaturas; quando quiseres falar, fala com Jesus e com o teu Anjo.
“No dia seguinte, à mesma hora, ei-lo outra vez. Aproximou-se de mim, acariciou-me e, com afeição, não pude deixar de dizer-lhe:
- Ó meu Anjo, como eu te amo!”

Apesar de leiga, a bela virgem foi canonizada apenas 37 anos após sua morte. Devido a vários sinais sobrenaturais e curas inexplicáveis, Roma interessou-se por seu caso em 1917. Foi proclamada santa em 26 de março de 1936. Desde então, seu rosto continua a fascinar as multidões...

(R.P. Germain de Santo-Estanislau c.p. (director espiritual Gemma), a séraphique virgem de Lucques, Gemma Galgani, Arras, Brunet, 1910. / In Pierre Jovanovic, Enquête sur l'existence des Anges gardiens Chap. 9: "Des stigmatisés et des Anges". Réédition enrichie: Le Jardin des livres, 243 bis Boulevard Pereire, 75017Paris / http://www.lejardindeslivres.com.)

Cecy Cony
Os olhos percorriam atentamente as linhas do texto e, de quando em quando, mais uma página era virada. Em torno reinava o silêncio, entrecortado às vezes por algum som típico de uma cidade do interior, no início do século passado. Estamos em 1917. Uma jovem, com seus 17 anos, tranquila, estuda numa sala próxima à entrada de casa. Era mais uma quente noite de verão em Jaguarão, no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai.

A porta da rua se encontrava aberta, talvez com a finalidade de arejar um pouco o ambiente, castigado pelo abafamento característico dessa época do ano. Os criados estavam ocupados nos afazeres domésticos, longe daquela parte da casa. Concentrada na leitura, nem mesmo percebeu a entrada de um estranho na dependência, o qual se postou do outro lado da mesa diante da qual estava. A surpresa foi tão grande quando, ao levantar os olhos do livro, divisou um homem, com sinais de embriaguez, que agarrava com as duas mãos a borda da mesa. Era forte e alto, mal-encarado e olhar covarde. Envolvendo a cintura com uma faixa, ali levava presa uma faca, como é costume usar nessa região.

O forasteiro permaneceu algum tempo a observar a moça, meio aturdida por tal visão, e depois foi rodeando a mesa na direção dela, sem deixar de se apoiar. Quebrou o silêncio reinante e disse em espanhol: "Tú hablas, yo te estrangulo".7

O terror se apoderou da moça, que nada pôde dizer, a não ser umas poucas palavras a meia voz: "Meu novo amigo!". No mesmo instante sentiu pousar sobre o ombro uma mão, aquela mesma que, por vezes, sentira em outras ocasiões de desalento. Era seu fiel Anjo da Guarda que, ao lhe tocar no ombro, lhe restituía como que por encanto a tranquilidade, dissipando com incrível rapidez o terror que sentia. Teve, com isso, forças para se levantar e correr ao encontro de Acácia, uma das empregadas da casa, enquanto o temido homem fugia, derrubando na fuga uma cadeira, com grande barulho.8

Fatos como o que acaba de ser descrito ocorreram na vida de Cecy Cony, uma brasileira nascida em 1900, na cidade de Santa Vitória do Palmar, no extremo sul do Brasil, e mais tarde religiosa na Congregação das Irmãs Franciscanas da Penitência e da Caridade Cristã, onde ingressou com o nome de Maria Antônia. Foi dotada de grande quantidade de dons, entre os quais tem primazia a graça de ver o Anjo da Guarda desde os cinco anos de idade.                                                           


Fonte:
(Excertos do livro "A Criação e os Anjos", Coleção "Conheça a sua Fé", v.III) - Revista Arautos do Evangelho, Julho/2015, n. 163, p. 22 a 25.
e
http://www.arautos.org/artigo/71912/Os-Anjos-na-vida-dos-Santos.html



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