domingo, 29 de setembro de 2019

Consagração a São Miguel Arcanjo





Ó Príncipe nobilíssimo dos Anjos, valoroso guerreiro do Altíssimo, zeloso defensor da glória do Senhor, terror dos espíritos rebeldes, amor e delícia de todos os Anjos justos, meu diletíssimo Arcanjo São Miguel, desejando eu fazer parte do número dos vossos devotos e servos, a vós hoje me consagro, me dou e me ofereço e ponho-me a mim próprio, a minha família e tudo o que me pertence, debaixo da vossa poderosíssima proteção. É pequena a oferta do meu serviço, sendo como sou um miserável pecador, mas vós engrandecereis o afeto do meu coração; recordai-vos que de hoje em diante estou debaixo do vosso sustento e deveis assistir-me em toda a minha vida e obter-me o perdão dos meus muitos e graves pecados, a graça da amar a Deus de todo coração, ao meu querido Salvador Jesus Cristo e a minha Mãe Maria Santíssima, obtende-me aqueles auxílios que me são necessários para obter a coroa da eterna glória. Defendei-me dos inimigos da alma, especialmente na hora da morte. Vinde, ó príncipe gloriosíssimo, assistir-me na última luta e com a vossa arma poderosa lançai para longe, precipitando nos abismos do inferno, aquele anjo quebrador de promessas e soberbo que um dia prostrastes no combate no Céu.

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate para que não pereçamos no supremo juízo. 

Amém. 

+




sábado, 28 de setembro de 2019

40º dia – Papa Francisco: os anjos nos defendem de Satanás, que quer destruir o homem





Satanás apresenta as coisas como se fossem boas, mas a sua intenção é destruir o homem; e os anjos lutam contra o diabo e nos defendem, assim disse o Papa Francisco na homilia da Missa que celebrou no dia 29 de setembro de 2014, no dia em que a Igreja celebra a Festa dos Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael.

Conforme assinala a Rádio Vaticano, o Papa Francisco se referiu à “luta entre o demônio e Deus”, e disse que as leituras do dia apresentam imagens muito fortes: a visão da glória de Deus relatada pelo profeta Daniel com o Filho do homem, Jesus Cristo, diante do Pai; a luta do Arcanjo Miguel e os seus anjos contra “o grande dragão, a serpente antiga, aquele que é chamado diabo” e que “seduziu a toda a terra habitada”, mas que foi derrotado, como afirma o Apocalipse; e o Evangelho em que Jesus diz a Natanael: “Verás o céu aberto e os anjos de Deus subir e descer sobre o Filho do homem”.

O Papa disse que “esta luta ocorre depois que Satanás procura destruir a mulher que está para parir o filho. Satanás sempre procura destruir o homem: o homem que Daniel via ali, na glória, e que Jesus dizia a Natanael que viria na gloria. Desde o início a Bíblia nos fala disto: desta sedução de Satanás para destruir. Por inveja. Nós lemos no Salmo 8: ‘Tu fizeste o homem superior aos anjos’, e esta inteligência tão grande do anjo não podia suportar esta humilhação, que uma criatura inferior fosse feita superior; e buscava destruí-la”.

Satanás, portanto, tenta destruir a humanidade, a todos: “tantos projetos, exceto os próprios pecados, mas tantos projetos de desumanização do homem são obra dele; simplesmente porque odeia o homem. É astuto: está escrito na primeira página do Gênesis; é astuto. Apresenta as coisas como se fossem boas. Mas a sua intenção é a destruição. E os anjos nos defendem”.

Os anjos, disse logo o Santo Padre, “defendem o homem e defendem o Homem-Deus, o Homem superior, Jesus Cristo que é a perfeição da humanidade, o mais perfeito. Por isto a Igreja honra os anjos, porque são aqueles que estarão na glória de Deus – estão na gloria de Deus – porque defendem o grande mistério escondido de Deus, isto é, que o Verbo veio na carne”.

“A missão do povo de Deus – afirmou o Papa – é guardar em si mesmo o homem: o homem Jesus”, pois “é o Homem que dá vida a todos os homens”. Ao contrário, nos seus projetos de destruição, Satanás inventa “explicações humanísticas que vão justamente contra o homem, contra a humanidade e contra Deus”.

“A luta é uma realidade cotidiana, na vida cristã: no nosso coração, na nossa vida, na nossa família, no nosso povo, nas nossas igrejas… Se não se luta, seremos derrotados. Mas o Senhor deu esta missão principalmente aos anjos, de lutar e vencer. E o canto final do Apocalipse, após esta luta, é tão bonito: ‘Agora se cumpriu a salvação, a força e o Reino de nosso Deus e o poder do seu Cristo, porque foi precipitado o acusador dos nossos irmãos, aquele que os acusava diante do nosso Deus dia e noite’”.

Para concluir, o Papa convidou a orar aos arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael e a “recitar aquela oração antiga, mas tão bonita, do Arcanjo Miguel, para que continue a lutar para defender o maior mistério da humanidade: que o Verbo se fez homem, morreu e ressuscitou. Este é o nosso tesouro. Que ele continue a lutar para guardá-lo”.

Por ACI/EWTN Noticias
- See more at: http://saojoaobosco.com.br/francisco-os-anjos-nos-defendem-de-satanas-que-quer-destruir-o-homem.html



sexta-feira, 27 de setembro de 2019

39º dia – A fala dos Anjos





"As únicas joias que embelezam a esposa de um Rei Crucificado são os espinhos e a Cruz", disse a Santa Gema Galgani o seu Anjo da guarda. Desde muito jovem Gema via o seu Anjo, conversava com ele e até mesmo rezavam juntos. Eram companheiros inseparáveis.

A jovem possuía uma beleza privilegiada, sua mãe havia falecido, seu pai entrara em falência, a melhor solução para todos estes problemas seria encontrar um esposo rico para a moça. O que não seria difícil. Para isso, deram-lhe de presente duas belas joias: um relógio de pulso e um crucifixo para portar ao pescoço. O presente agradou muito a pequena Gema, que foi logo ver no espelho como lhe caiam e que efeito produziria nos outros.

Apenas tendo consentido nesta pequena vaidade, viu atrás de si um jovem de rara beleza, radiante de luz, mas entristecido e quase zangado que lhe fitava com olhar severo. "As únicas joias que embelezam a esposa de um Rei Crucificado são os espinhos e a Cruz". A partir desse dia, nunca mais Santa Gema se adornaria com outras joias que não fossem essas apresentadas por seu Anjo. [1]

Conversar com o próprio Anjo da Guarda, como quem fala com um amigo íntimo ou um irmão é um fato extraordinário, que raras vezes acontece. Mas, os Anjos comunicam-se conosco, por meio de uma linguagem que não é de palavras, e mais frequentemente do que se pensa. Basta ter espírito de fé e ter a atenção voltada para as realidades sobrenaturais.

A doutrina católica ensina que Deus designa um Anjo para guardar cada homem desde o instante de seu nascimento. Esse Anjo não terá outro a quem proteger durante toda a história da humanidade, mas somente aquele. São estes celestes guardiões que nos amparam permanentemente em nossa peregrinação terrena. [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9]

Acontece que nem todas as pessoas têm esse relacionamento tão direto com o seu próprio Anjo da guarda, como o tinha Sta. Gema. Entretanto, de alguma maneira, sempre estamos nos relacionando com o nosso Anjo, e, sobretudo, ele conosco. Mas como se dá essa comunicação se não possui corpo material, e, portanto, não tem boca nem língua? Como conversam os Anjos?

O doutor angélico nos explica que os Anjos podem se comunicar de duas maneiras distintas, tanto com os homens quanto entre si: pela iluminação e pela simples locução.

A iluminação é o ato pelo qual se manifesta uma verdade. [10] Assim se diz que um Anjo ilumina outro quando lhe manifesta uma verdade que conhece e que lhe foi revelada por Deus e que o outro desconhece ou conhece em grau inferior. Esta iluminação é concedida por Deus a todos os Anjos, mas nem todos a recebem - ou aproveitam - de igual modo. [11] Isto, entretanto, não se deve a uma deficiência do modo pelo qual Deus os ilumina, mas porque a capacidade de apreender é maior para uns e menor para outros.

Para exemplificar a tese, o Pseudo-Dionísio nos oferece a imagem da difusão do raio de sol, que "atravessa sem dificuldade a primeira matéria, a mais translúcida de todas, e, através dela, faz brilhar mais luminosamente os próprios reluzimentos", mas que, assim que ela choca com matérias mais opacas, "mais reduzida é sua manifestação difusiva, em razão da inaptidão das matérias iluminadas em possuir um hábitus transmissor do dom da luz", que decresce pouco a pouco até que por fim a transmissão se torne mais ou menos impossível[12]. Portanto, a razão desta insuficiência no aproveitamento da iluminação por parte dos Anjos inferiores deve-se apenas à sua maneira menos perfeita de compreender as verdades que lhes são propostas. Por isso os Anjos superiores transmitem aos inferiores o que viram de Deus.

Segundo São Tomás a iluminação é feita da seguinte maneira: um fortalecimento, por parte do Anjo superior, da capacidade que o Anjo inferior tem de conhecer, o que se pode dar simplesmente com a sua presença ou pela solicitude deste para com o Anjo inferior, como se lhe estimulasse a fim de que pudesse conhecer verdades de ordem mais elevada. [13]

Como já vimos, o Anjo superior tem uma capacidade maior de apreender essas verdades sobrenaturais que o Anjo inferior, então para que este possa entender aquilo que o Anjo superior quer lhe transmitir é necessário da que o Anjo superior fragmenta seu conhecimento para que o Anjo inferior consiga entender. O exemplo que o próprio São Tomás dá para esta teoria é de um professor que tem um conhecimento muito amplo da matéria que leciona e que ao apresentá-la aos alunos divide-a em partes coerentes e ordenadas, de modo que os alunos possam entendê-la. Evidentemente, os alunos terão um conhecimento da matéria muito inferior e mais fracionado em relação ao do professor, portanto menos rico. Assim se passa com os Anjos. [14]

Esta forma de comunicação só se dá da parte dos Anjos superiores para com os Anjos inferiores, mas existe uma outra forma de comunicação, que é a simples locução, na qual também os Anjos inferiores "falam" aos superiores. São Tomás explica que a locução tem por finalidade manifestar algo desconhecido àquele com quem se fala ou pedir-lhe alguma coisa. [15]

A locução se distingue da iluminação, porque a iluminação se refere às verdades que procedem de Deus como verdade primeira. A locução tem por objeto a revelação daqueles conhecimentos que dependem da vontade do comunicante e que São Tomás denomina "segredos do coração". Não são verdades essenciais; são dados da própria consciência pessoal, cuja manifestação está debaixo do selo da própria vontade. Daí a liberdade característica de tal comunicação da intimidade[16].

Evidentemente, a comunicação dos Anjos uns com os outros não se expressa com sons, palavras ou outro elemento material, pois sua natureza é puramente espiritual. A sua comunicação corresponde a um ato de vontade de que outros Anjos conheçam ou compreendam conceitos que possuem e que conservam ocultos, e podem inclusive dar a conhecer a uns e não a outros, conforme sua vontade. [17] Assim, os Anjos falam também a Deus, perguntando-Lhe coisas, pedindo esclarecimentos, louvando-O e glorificando-O.[18]

Isso que no Anjo é conatural, no homem pode se dar pela graça. Um Anjo superior pelo simples fato de voltar-se para o inferior já lhe amplia a capacidade cognoscitiva. [19] Nós poderíamos sentar ao lado de São Tomás de Aquino durante uma semana que provavelmente não ficaríamos mais inteligentes, mas por uma graça de Deus poderíamos ficar. O exemplo prototípico disso é o cumprimento de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel. Maria provavelmente não deu uma aula filosófica à sua prima, mas o simples fato de Ela ser quem é e estar ali próxima e de fazer ouvir sua voz, foi o suficiente para que Santa Isabel percebesse estar ali a Mãe do Messias e para santificar São João batista no claustro materno.

É sem dúvida essa "iluminação" que nos move a querermos estar próximos das pessoas de quem gostamos, pois sentimos que alguma coisa nos eleva e nos atrai.

E sobre o que conversam os anjos? Evidentemente, o principal objeto da conversa angélica é Deus, pois toda criatura tende naturalmente a voltar-se para o Criador, sobretudo em se tratando de criaturas tão perfeitas como são os Anjos, a além do mais estando eles na Visão Beatífica, sempre vendo aspectos novos de Deus durante toda a eternidade, pois sendo Deus infinito, por mais que eles vejam a Deus no seu todo, não O vêem totalmente, posto que isso é impossível a qualquer criatura.

Mas, podemos concluir disso que um dos temas sobre os quais os Anjos conversam é a intervenção de Deus na Obra da Criação, ora o elemento mais importante da criação é o homem. Em última análise os anjos conversam sobre a ação de Deus na história da humanidade.[20] A respeito da criação os Anjos superiores comunicam aos inferiores tudo o que vêem em Deus, pois como vimos, os superiores vêem de maneira mais rica todas as coisas e iluminam os inferiores sobre aquilo que viram.

Poderíamos imaginar inclusive uma conversa angélica na qual os nossos Anjos da Guarda perguntam a algum Anjo mais elevado como compreender melhor aquele do qual é guardião e querendo saber por que fez aquilo, por que deixou de fazer isto, etc., e o Anjo superior explica que isso aconteceu por que sua natureza é constituída de tal maneira e que seria conveniente agir com ele de tal ou qual modo, que Deus tem este ou aquele plano para ele, etc. Enfim, cada um pode imaginar - ou dar-se conta de que já aconteceu - mil circunstâncias em que nossos Anjos da Guarda recorreram a Deus, através dos Anjos superiores, para nos auxiliar.

Portanto, nossos Anjos da Guarda estão muitas vezes conversando sobre nós com os Anjos que lhes são superiores, de maneira que nós fazemos parte de uma "cascata" de Anjos que estão preocupados com cada um de nós para nos proteger, auxiliar e interceder por nós junto a Deus.

Mas eles não conversam apenas entre si ou com Deus. Também com os homens eles se comunicam. Por uma sublime disposição da Providência Divina, os seres superiores se tornam intermediários entre Deus e os que lhes são inferiores. Assim os Anjos são intermediários entre o Criador e os homens.[21]

Como diz São Tomás, citando São Dionízio, o homem não é capaz de captar um conceito puramente abstrato se não houver em sua mente algo à maneira de um invólucro que sirva de imagem para poder entender. Por isso os Anjos apresentam as verdades que querem transmitir aos homens sob uma aparência sensível a seus sentidos.[22]

Os Anjos, tanto os bons quanto os maus, têm poder sobre a imaginação humana[23], podendo nos inclinar à prática da virtude, dando-nos boas inspirações, sugerindo-nos bons propósitos, podem nos ajudar em nossas tarefas proporcionando-nos boas idéias, enfim, em toda sorte de ações podemos ser profundamente influenciado pelos espíritos angélicos. Os demônios, pelo contrário, estão sempre à espreita de uma oportunidade para nos fazer ofender a Deus, prejudicarmos nosso próximo, consentirmos em algum movimento de inveja, de raiva, sobretudo de desespero ou desânimo.

Para sabermos quem é que está agindo em nós existe um termômetro muito eficaz. Onde entra agitação ou perturbação, sempre a causa são os demônios. Quando sentimos alegria, paz de consciência e boas disposições de alma para ajudarmos os outros, nos sacrificarmos por alguém, podemos estar certos de ser isso fruto da ação dos espíritos angélicos.

Além desse tipo de auxílio que recebemos sempre de nosso Anjo da Guarda, a algumas almas Deus concede auxílios especiais. Por exemplo, Santa Faustina foi designada em determinado momento para ser porteira de seu convento. Entretanto, temia ela profundamente que o convento fosse algum dia invadido por bandidos. Pediu a Deus que a amparasse nessa difícil tarefa. Assim narra a santa o que aconteceu: "‘Minha filha, assim que fostes designada para este serviço, pus um querubim para te guardar. Portanto, não te inquietes.' Depois de minha conversa com o Senhor, vi uma leve nuvem branca e, dentro na nuvem, um querubim, de mãos postas, cujo olhar era semelhante ao relâmpago." [24]

Isso pode não nos acontecer todos os dias, ou talvez nunca na vida. Tanto melhor, pois Deus está querendo nos cumular de méritos pedindo que acreditemos sem ver. O que é absolutamente certo é que, vendo ou não, temos constantemente ao menos um Anjo que está ao nosso lado para toda e qualquer necessidade. Muitas vezes ele mesmo toma a iniciativa de nos ajudar, mas deixá-lo-íamos muito contente se nós também pedíssemos sua intercessão.

Ter um Anjo da Guarda é um dom do qual Deus é tão cioso que inclusive os não batizados o possuem. Antes do batismo não se pode receber a Eucaristia, não se tem a inabitação da Santíssima Trindade, não se tem a Deus como Pai e Amigo dentro da própria alma, entretanto Deus quer dar a todos um protetor e um amigo de todos os momentos a todos os homens. [25]

Se nós sentimos tantas vezes as insídias diabólicas a combater contra nós, com quanto mais razão não estará nosso Anjo da Guarda a combater por nós? Se ele nos permite alguma tribulação, provação ou sofrimento, é apenas para nosso bem, embora possamos não entender naquele momento. [26] Mas quanto mais nos sentimos abandonado, mais estamos sendo aparados insensivelmente por nosso Santo Anjo.

Quantas vezes a mãe não dá à criança um brinquedo, e, notando nesta um certo desprezo pelo brinquedo finge que vai tirá-lo de suas mãos? Então a criança se reanima na consideração do brinquedo. Assim também faz conosco o nosso Anjo da Guarda. Quando ele percebe que estamos entorpecidos na vida espiritual ele parece se afastar de nós, mas na realidade ele nos está aproximando dele. A melhor maneira de encaminhar alguém para o bom caminho é atraí-lo para esse caminho e não obrigá-lo a entrar por ele.

Peçamos, pois, a Deus e a sua Mãe Santíssima uma devoção entranhada aos Anjos, esses gloriosos intercessores celestes, de que muitas vezes esquecemos.

NOTAS:
[1] Basilio, p. 25 e 26.
[2] Cf. Catéchisme du Concile de Trente, Parte 4, Cap. 39, n. 1.
[3] Cf. JOÃO XXIII, Discurso do 2 de outubro de 1960.
[4] Cf. VALBUENA, Jesús, Introdução à questão 113, p. 932. Suma Teológica, BAC, Madrid, 1950
[5] Cf. BASÍLIO, São, Contra Eunômio, Livro 3, n. 1.
[6] Cf. ORÍGENES, Comentários ao Evangelho de São Mateus, 5.
[7] Cf. JERÔNIMO, São, Commentaire sur Saint Matthieu, Tomo 2, Livro 3, Cap. 18.
[8] Cf. JOÃO XXIII, Discurso na Basílica de Santa Maria dos Anjos de 9 de setembro de 1962.
[9] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 113.
[10] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 106, a. 1, resp.
[11] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 106, a. 4, resp.
[12] La diffusion du rayon solaire traverse sans difficulté la première matière, la plus translucide de toutes, et, à travers elle, fait briller plus lumineusement ses propres resplendissements, mais que, dès qu'elle se heurte aux matières plus opaques, plus réduite est sa manifestation diffusive, en raison de l'inaptitude des matières éclairées à posséder un habitus transmetteur du don de lumière, et elle décroît peu à peu de ce niveau jusqu'à ce que finalement la transmission devienne à peu près impossible (DIONÍSIO, La Hiérarchie Céleste, Chap. XIII, 3).
[13] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 106, a. 1, resp.
[14] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 106, a. 1, resp.
[15] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 107, a. 2, resp.
[16] La locución se distingue de la iluminación, porque la iluminación se refiere a las verdades que proceden de Dios como primera verdad. La locución tiene por objeto la revelación de aquellos conocimientos que dependen de la voluntad del comunicante y que Sto. Tomás denomina "secretos del corazón". No son verdades esenciales; son datos de la propia conciencia personal, cuya manifestación está bajo el sello de la propia voluntad. De ahí la libertad característica de tal comunicación de la intimidad (BARRENECHEA, José Maria, Introdução às questões 103 a 119, p. 878) Suma Teológica, 4ª ed., BAC Maior, Madrid, 2001.
[17] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 107, a. 2, resp.
[18] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 107, a. 3, resp.
[19] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 106, a. 1, resp.
[20] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 113, a. 8, sed contra e resp.
[21] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 111, a. 1
[22] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 111, a. 1
[23] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 111, a. 3
[24] Faustina, p. 330.
[25] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 113, a. 5
[26] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 113, a. 6 


Fonte:
http://www.arautos.org/artigo/16435/Os-Anjos-falam-.html



quinta-feira, 26 de setembro de 2019

38º dia – Os Anjos na vida de alguns santos – Parte 2





São Pio de Pietrelcina
Ainda mais próximo de nós, encontramos São Pio de Pietrelcina (1887-1968), dotado de muitos dons místicos, inclusive o dos estigmas, isto é, as chagas da crucifixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, e grande incentivador da devoção aos Anjos da Guarda. Em diversas ocasiões ele recebeu recados dos Anjos da Guarda de pessoas que, à distância, necessitavam de algum auxílio dele.

Um senhor de nome Franco Rissone, sabendo do constante empenho de São Pio para que houvesse maior devoção aos celestes custódios, todas as noites, do hotel onde estava hospedado, enviava seu Anjo da Guarda ao padre Pio para que lhe transmitisse as mensagens desejadas. Franco duvidava que o Santo ouvisse seus recados. Certo dia, ao se confessar com São Pio, perguntou: "Vossa Reverendíssima ouve realmente o que lhe mando dizer pelo Anjo da Guarda?". Ao que o religioso respondeu: "Mas então julgas que estou surdo?".10

As incertezas de muitos com relação ao convívio de São Pio de Pietrelcina com os Santos Anjos, apesar de não indicarem confiança, serviam, entretanto, para ressaltar ainda mais esta sua familiaridade com os Anjos.

Certa senhora, de nome Franca Dolce, resolveu perguntar a São Pio o seguinte: "Padre, uma destas noites mandei o Anjo da Guarda tratar com Vossa Reverendíssima uns assuntos delicados. Veio ou não veio?". Respondeu o confessor: "Julgas, porventura, que o teu Anjo da Guarda é tão desobediente como tu?". A senhora, querendo saber mais, acrescentou: "Bom, então, veio; e o que é que ele lhe disse?". São Pio respondeu: "Ora essa, disse-me o que tu lhe disseste que me dissesse". Não contente com a resposta, a senhora tornou a perguntar: "Mas o que foi?". São Pio respondeu: "Disse-me...", e então repetiu com exatidão todas as palavras que a senhora ditara ao Santo Anjo, para surpresa dela mesma.11

Ainda mais eloquente é o fato ocorrido com outra senhora, chamada Banetti, camponesa residente a alguns quilômetros de Turim, na Itália. No dia 20 de setembro, data em que se comemorava a recepção dos estigmas do padre Pio, era costume as pessoas mais devotadas do santo confessor lhe enviarem cartas das mais variadas partes da Itália e até de outros países.

A senhora Banetti não encontrou quem fosse à cidade para pôr sua carta no correio. Encontrava-se aflita por não poder enviar seus cumprimentos a São Pio. Lembrou-se, entretanto, da recomendação que lhe fizera o Santo, na última vez em que com ele estivera: "Quando for preciso, manda teu Anjo da Guarda ter comigo".12 No mesmo instante dirigiu uma prece a seu celeste guardador: "Ó meu bom Anjo, levai vós mesmo os meus cumprimentos ao padre, pois não tenho outra forma de mandá-los".13 Poucos dias depois, a senhora Banetti recebe uma carta vinda de San Giovanni Rotondo, lugar onde vivia São Pio, enviada pela senhora Rosine Placentino, com as seguintes palavras: "O padre pede-me que lhe agradeça em seu nome os votos espirituais que lhe enviaste".14

Carta datada de 20 de abril de 1915, dirigida a Raffaelina Cerasi:
Ó Raffaelina, como é consolador saber que continuamos sob a guarda de um Anjo celestial que não nos abandona, mesmo (coisa admirável!) quando fazemos algo que desagrada a Deus… Tome o belo hábito de sempre pensar nele. Ao nosso lado, há um espírito celestial que, do berço ao túmulo, não nos deixa um só momento, que nos guia, nos protege como um amigo, como um irmão, que também nos consola sempre, especialmente nas horas que são, para nós, mais tristes. Saiba, Ó Raffaelina, que este bom Anjo ora por você, oferece a Deus todas as suas boas obras, os seus desejos santos e puros. Nas horas em que lhe parecer só e abandonada, não sinta pelo fato de não ter uma alma amiga, a quem possa abrir-se e a quem possa confiar os seus problemas; por caridade, não esqueça este invisível companheiro, sempre presente para ouvi-la, sempre pronto para consolá-la. Oh, deliciosa intimidade! Oh, feliz companhia! …

Correspondência do Padre Pio, recolhidos por Jean Derobert, Ed Hovine, 1987:
Lembre-se que estamos com Deus, quando nossa alma está em estado de graça, e longe dele, quando estamos em estado de pecado grave, mas seu Anjo - o nosso Anjo da Guarda - nunca nos abandona... É nosso amigo, o mais seguro e sincero, quando não estamos errados, (e também o é) para lamentar por nosso mau comportamento.
(Padre Pio, um Pensamento por Dia - Paris, Médiaspaul, 1991.)

Santa Francisca Romana
Santa Francisca Romana, nascida em 1384 no seio de uma distinta família, era uma alma especialmente favorecida por Deus, desde a juventude. Tal obséquio da Divina Providência se tornou ainda mais notável quando, depois da morte de um de seus filhos, chamado Evangelista, passa a ter convívio diário com seu "zeloso guardador".

Certa noite encontrava-se ela a dormir e, quase ao raiar do dia, o quarto foi inundado por uma grande claridade, em meio à qual apareceu o filho Evangelista, falecido havia quase um ano, com uma formosura incomparavelmente maior do que a manifestada nesta Terra. Ao lado de Evangelista estava também outro jovem ainda mais formoso: era o Anjo da Guarda deste.

Passados alguns instantes em que permanecera atônita com a visão, tomada de alegria, pergunta a Evangelista onde estava, o que fazia e se ainda se lembrava de sua mãe. Olhando para o Céu, ele responde: "Nossa ocupação é contemplar o abismo eterno da bondade divina, louvar e bendizer sua majestade com transportes de alegria e amor. Inteiramente absortos em Deus nessa celeste beatitude, não somente não sofremos dor, como não podemos tê-la e gozamos de uma paz que durará sempre. Não queremos, nem podemos querer senão o que sabemos ser agradável a Deus, que é nossa inteira e única beatitude. Saiba que os coros que estão acima de nós nos manifestam os segredos divinos".15 Foi então que disse à sua mãe o lugar onde se encontrava no Céu: o segundo coro da primeira hierarquia, isto é, entre os Arcanjos. Acrescentou também que o outro jovem, mais formoso, estava em grau mais elevado no Céu, razão de seu maior esplendor, e que havia sido designado por Deus para a consolar em sua peregrinação terrena. Permaneceria com ela perpetuamente e, doravante, poderia ter a consolação de vê-lo dia e noite, sem cessar.

São João Maria Vianney (Cura de Ars - * 1786 ; + 1859)
“O Anjo da Guarda está continuamente ao nosso lado para nos levar ao bem e defender-nos contra os anjos maus, que, incessantemente, rondam ao nosso redor para nos levar ao mal.”
(Le Prêtre de Village, Jean-Marie-B. Vianney, par une Société, d'après les mémoires de M. Pierre Oriol et autres, Imprimerie administrative, Vve Chanoine, Lyon, 1875.)
“É necessário, de manhã, ao acordar, oferecer a Deus o seu coração, o seu espírito, os seus pensamentos, as suas palavras, as suas ações, tudo mesmo, para servir unicamente à sua glória. Renovar as promessas do seu batismo, agradecer o seu Anjo da Guarda, e pedir proteção a este bom Anjo, que permanece ao lado de nós durante o nosso sono.”
“Se você está impossibilitado de orar, enconda-se atrás de seu bom Anjo e encarregue-o de rezar no seu lugar.”
(Abbé A. Monnin, Esprit du Curé d'Ars, M. Vianney dans ses catéchismes, ses homélies et sa conversation, Téqui, Paris, 1975 (50° mille).)

São João da Cruz (Reformador da Ordem Carmelita e doutor da Igreja) (*1542; + 1591)
“220. Os Anjos são os nossos pastores, eles não só levam a Deus nossas mensagens, como nos trazem também as de Deus. Eles alimentam nossas almas com suaves inspirações e comunicações divinas. Deus se vale deles para se comunicar conosco. Como bons pastores, protegem-nos e defende-nos contra os lobos, ou seja, os demônios.
221. Através de suas secretas inspirações, os Anjos procuram dar à alma um conhecimento mais elevado de Deus; abrazam-no de uma chama viva de amor para com Ele; até deixá-lo “ferido” de amor.
222. A mesma sabedoria divina que, no céu, ilumina os Anjos e os purifica de qualquer ignorância, ilumina também os homens sobre a Terra e o purifica dos seus erros ou imperfeições; se estende desde as primeiras hierarquias dos Anjos até as últimas, e por estas chega até o homem.
223. A luz de Deus ilumina o Anjo penetrando seu esplendeor e abrazando-o do seu amor, porque o Anjo é um puro espírito já disposto a esta participação divina. O mesmo não se dá com o homem, pois nele a iluminação é obscura, dolorosa e penosa, porque o homem é impuro e fraco, assim como a luz do sol não consegue iluminar olhos enfermos, e os faz sofrer.
224 Porém, quando o homem é realmente espiritual e está transformado pelo amor divino, que o purifica, recebe a união e a amorosa iluminação de Deus com uma suavidade semelhante à dos Anjos.”
(Saint Jean de la Croix, Oeuvres spirituelles, Paris, Le Seuil, 1947. Avis et maximes, "Autres avis et maximes", chapitre VII : Des Anges.)


Fonte:
(Excertos do livro "A Criação e os Anjos", Coleção "Conheça a sua Fé", v.III) - Revista Arautos do Evangelho, Julho/2015, n. 163, p. 22 a 25.
e
http://senhoradasgracas.org.br/noticias/24192/Os-Anjos-da-Guarda-na-Voz-dos-Santos-e-Doutores.html



quarta-feira, 25 de setembro de 2019

37º dia – Os Anjos na vida de alguns santos – Parte 1





O Anjo da Guarda acompanha sempre a cada um de nós. Poucas pessoas, contudo, recebem a graça de poder sentir fisicamente a presença desse protetor.
Nossos Anjos guardiães estão ao lado de cada um de nós, incansáveis, solícitos, bondosos, prontos a nos ajudar em tudo quanto precisarmos, quer sejam necessidades materiais ou espirituais. Vejamos alguns exemplos de pessoas favorecidas com a graça de ver o seu Anjo da Guarda e com ele conversar repetidas vezes ao longo da vida.
Por certo, em nossos conturbados dias, isso contribuirá para aumentar em nós a devoção ao nosso melhor amigo, e nos estimulará a recorrermos com mais empenho ao seu concurso.                                                                         

Santa Gemma Galgani
Santa Gemma Galgani (1878-1903) teve a constante companhia de seu Anjo protetor, com quem mantinha um trato familiar. Ela o via, rezavam juntos, e ele até mesmo deixava que ela o tocasse. Enfim, Santa Gemma tinha seu Anjo da Guarda na condição de um amigo sempre presente. Ele lhe prestava todo tipo de ajuda, até mesmo levando mensagens para seu confessor, em Roma.

Este sacerdote, o padre Germano de Santo Estanislau, da Ordem dos Passionistas, fundada por São Paulo da Cruz, deixou narrado o convívio de Santa Gemma com seu celeste protetor: "Frequentes vezes ao perguntar-lhe eu se o Anjo da Guarda permanecia sempre no seu posto, ao lado dela, Gemma voltava-se para ele com um à vontade encantador e logo ficava num êxtase de admiração todo o tempo que o fixava". Ela o via durante todo o dia. Ao dormir pedia-lhe que velasse à cabeceira da cama e que lhe fizesse um sinal da Cruz na fronte. Quando despertava, pela manhã, tinha a imensa alegria de vê-lo a seu lado, como ela mesma contou a seu confessor: "Esta manhã, quando acordei, lá o tinha junto de mim".

Quando ia se confessar e precisava de auxílio, sem demora seu Anjo a ajudava, segundo conta: "[Ele] me traz ao espírito as ideias, dita-me até algumas palavras, de forma que não sinto dificuldade em escrever". Além disso, seu Anjo da Guarda era um sublime mestre de vida espiritual, ensinando-a como proceder retamente: "Lembra-te, minha filha, que a alma que ama a Jesus fala pouco e abnega-se muito. Ordeno-te, da parte de Jesus, que nunca dês o teu parecer se não te for pedido, e que não defendas a tua opinião, mas que cedas logo". E ainda acrescentava: "Quando cometeres qualquer falta, acusa-te logo dela sem esperares que te interroguem. Enfim, não te esqueças de resguardar os olhos, porque os olhos mortificados verão as belezas do Céu".

Apesar de não ser religiosa, levando uma vida comum, Santa Gemma Galgani desejava, entretanto, consagrar-se de maneira mais perfeita ao serviço de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porém, como às vezes pode acontecer, o simples anseio de santidade não basta; é preciso a sábia instrução de quem nos guia, aplicada com firmeza. E assim acontecia a Santa Gemma. Seu suavíssimo e celeste companheiro, que a todo tempo estava sob seu olhar, não colocava de lado a severidade quando, por algum deslize, sua protegida deixava de seguir as vias da perfeição. Quando, por exemplo, resolveu usar algumas joias de ouro, com certo comprazimento, para visitar um parente de quem as havia recebido de presente, ouviu uma salutar admoestação de seu Anjo, ao regressar a casa, que a olhava com severidade: "Lembra-te que os colares preciosos, para enfeite da esposa de um Rei crucificado, só podem ser seus espinhos e sua Cruz". Fosse qual fosse a ocasião em que Santa Gemma se desviasse da santidade, logo uma angélica censura se fazia ouvir: "Não tens vergonha de pecar na minha presença?". Além de custódio, bem se vê que o Anjo da Guarda desempenha o excelente ofício de mestre de perfeição e modelo de santidade.

O texto abaixo é do Revmo. Pe. Germano de Santo Estanislau C.P., diretor espiritual de Santa Gemma.

Dado que Gemma encontrava-se predestinada a um grau muito elevado de felicidade celestial, era natural e conforme à Sabedoria divina que o Anjo nomeado para sua guarda tivesse dela um cuidado muito especial. A graça, que se manifestava além disso nesta alma afortunada em fenômenos tão prodigiosos, ia tomar corpo, de uma maneira não menos prodigiosa, na assistência do seu bom Anjo. (...)

Mais impressionante, neste suave comércio, era a presença sensível e quase contínua do Anjo. Gemma via-o através de seus olhos corporais, tocava-o pelas suas mãos, como uma pessoa viva, vinculava conversação com ele como com um amigo. “Jesus, escrevia-me, não o vejo há seis dias; mas não me deixou completamente só; o Anjo da Guarda continua de pé, visível, perto de mim.” Com quanta efusividade dava graças a Deus por este benefício, e testemunhava ao espírito que a protegia o seu reconhecimento! “Se algumas vezes sou má, caro Anjo, não se zangue; quero mostrar-lhe minha gratidão. / Sim, respondia o guarda celestial, serei o teu guia e o teu companheiro inseparável.”

O Anjo da Guarda de Gemma a vigiava, fazia-lhe café, explicava-lhe os Mistérios, abraçava-a, mas sobretudo ajudava-a melhor sofrer por amor a Cristo.
“O Anjo olhava-me, assim, afetuosamente! E quando chegou o momento de partir, enquanto aproximava-se de mim para beijar minha fronte, pedi que não me deixa-se ainda. Mas ele me disse:
- É necessário que eu vá!
- Então vá e saúda Jesus.
“Lançou-me um último olhar, dizendo-me:
“Não quero mais que você mantenha conversações com as criaturas; quando quiseres falar, fala com Jesus e com o teu Anjo.
“No dia seguinte, à mesma hora, ei-lo outra vez. Aproximou-se de mim, acariciou-me e, com afeição, não pude deixar de dizer-lhe:
- Ó meu Anjo, como eu te amo!”

Apesar de leiga, a bela virgem foi canonizada apenas 37 anos após sua morte. Devido a vários sinais sobrenaturais e curas inexplicáveis, Roma interessou-se por seu caso em 1917. Foi proclamada santa em 26 de março de 1936. Desde então, seu rosto continua a fascinar as multidões...

(R.P. Germain de Santo-Estanislau c.p. (director espiritual Gemma), a séraphique virgem de Lucques, Gemma Galgani, Arras, Brunet, 1910. / In Pierre Jovanovic, Enquête sur l'existence des Anges gardiens Chap. 9: "Des stigmatisés et des Anges". Réédition enrichie: Le Jardin des livres, 243 bis Boulevard Pereire, 75017Paris / http://www.lejardindeslivres.com.)

Cecy Cony
Os olhos percorriam atentamente as linhas do texto e, de quando em quando, mais uma página era virada. Em torno reinava o silêncio, entrecortado às vezes por algum som típico de uma cidade do interior, no início do século passado. Estamos em 1917. Uma jovem, com seus 17 anos, tranquila, estuda numa sala próxima à entrada de casa. Era mais uma quente noite de verão em Jaguarão, no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai.

A porta da rua se encontrava aberta, talvez com a finalidade de arejar um pouco o ambiente, castigado pelo abafamento característico dessa época do ano. Os criados estavam ocupados nos afazeres domésticos, longe daquela parte da casa. Concentrada na leitura, nem mesmo percebeu a entrada de um estranho na dependência, o qual se postou do outro lado da mesa diante da qual estava. A surpresa foi tão grande quando, ao levantar os olhos do livro, divisou um homem, com sinais de embriaguez, que agarrava com as duas mãos a borda da mesa. Era forte e alto, mal-encarado e olhar covarde. Envolvendo a cintura com uma faixa, ali levava presa uma faca, como é costume usar nessa região.

O forasteiro permaneceu algum tempo a observar a moça, meio aturdida por tal visão, e depois foi rodeando a mesa na direção dela, sem deixar de se apoiar. Quebrou o silêncio reinante e disse em espanhol: "Tú hablas, yo te estrangulo".7

O terror se apoderou da moça, que nada pôde dizer, a não ser umas poucas palavras a meia voz: "Meu novo amigo!". No mesmo instante sentiu pousar sobre o ombro uma mão, aquela mesma que, por vezes, sentira em outras ocasiões de desalento. Era seu fiel Anjo da Guarda que, ao lhe tocar no ombro, lhe restituía como que por encanto a tranquilidade, dissipando com incrível rapidez o terror que sentia. Teve, com isso, forças para se levantar e correr ao encontro de Acácia, uma das empregadas da casa, enquanto o temido homem fugia, derrubando na fuga uma cadeira, com grande barulho.8

Fatos como o que acaba de ser descrito ocorreram na vida de Cecy Cony, uma brasileira nascida em 1900, na cidade de Santa Vitória do Palmar, no extremo sul do Brasil, e mais tarde religiosa na Congregação das Irmãs Franciscanas da Penitência e da Caridade Cristã, onde ingressou com o nome de Maria Antônia. Foi dotada de grande quantidade de dons, entre os quais tem primazia a graça de ver o Anjo da Guarda desde os cinco anos de idade.                                                           


Fonte:
(Excertos do livro "A Criação e os Anjos", Coleção "Conheça a sua Fé", v.III) - Revista Arautos do Evangelho, Julho/2015, n. 163, p. 22 a 25.
e
http://www.arautos.org/artigo/71912/Os-Anjos-na-vida-dos-Santos.html



terça-feira, 24 de setembro de 2019

36º dia – O Anjo da Guarda segundo o Monge Beneditino e escritor Anselm Grun





No Evangelho de Mateus Jesus diz a seus discípulos: "Cuidado para não desprezar um desses pequeninos, porque eu vos digo que seus Anjos estão continuamente no céu, na presença do meu Pai celeste" (Mt 18, 10). Quando se fala em pequeninos, se está pensando não apenas nas crianças, mas também nas pessoas desconhecidas, pouco importantes e simples na comunidade cristã. Jesus diz então que cada uma destas pessoas pequenas e desprezadas tem um Anjo que contempla a face de Deus. Esta passagem da Bíblia levou na Igreja à doutrina de um Anjo da Guarda pessoal. A ideia de Anjos da Guarda existe em muitas religiões. Aqui Jesus assume a ideia judaica, porém levando-a também adiante. Pois no Judaísmo rabínico os Anjos da Guarda se encontram na terra e não podem contemplar a face de Deus. Jesus quer dizer que toda pessoa tem um Anjo da Guarda que também vê a Deus. Toda pessoa está sob a especial proteção de Deus, que lhe envia um mensageiro especial. Os Santos Padres interpretaram esta passagem, dizendo que desde o nascimento cada pessoa tem o seu Anjo da Guarda pessoal. E até hoje a Igreja perseverou nesta doutrina. Que significa isto? Manifestamente, a Igreja está convencida de que junto a cada pessoa Deus coloca um Anjo. Muitos Santos Padres chegaram a ensinar que os Anjos participam na geração do ser humano (Orígenes, Tertuliano, Clemente de Alexandria). O ser humano não existe sem um Anjo, ele não é completo sem o seu Anjo pessoal. Os Santos Padres atribuíram um Anjo da Guarda não somente a cada pessoa mas também aos diferentes povos, ou mesmo às diversas comunidades. No Apocalipse de João o vidente sempre dirige sua mensagem ao Anjo da comunidade (cf. Ap 2).

E assim cada criança tem o seu Anjo da Guarda. Os adultos frequentemente me contam como na infância a ideia do Anjo da Guarda foi importante para eles. O Anjo dava-lhes apoio em meio à insegurança do mundo. As crianças possuem um sentido especial para a realidade dos Anjos. A pediatra e analista francesa Françoise Dolto conta em suas memórias que o convívio com seu Anjo da Guarda determinava seu dia-a-dia de criança. Ela convivia com o Anjo da Guarda como se ele estivesse ao lado dela: "Quando ia dormir, eu me deitava só na metade da cama, para deixar lugar para o meu Anjo da Guarda a fim de que ele dormisse ao meu lado. E em pensamento eu repassava o meu dia, que como sempre havia sido catastrófico, porque diziam que eu fazia multas asneiras, mas infelizmente eu não sabia como as fazia nem por que as fazia, e isto causava-me grande aflição" (Stubbe, 58). E ela ainda continua convencida de que seu Anjo da Guarda não a abandonou ao longo de toda a vida. Ele sempre se manifesta quando ela procura uma vaga no estacionamento. Ela acha que "o Anjo da Guarda de uma criança dorme ao lado dela. Mas o Anjo da Guarda de um adulto está sempre vigilante" (ib., 58).

Os pais não podem vigiar todos os passos de seus filhos. Quanto mais eles querem controlar o que os filhos fazem ou deixam de fazer, tanto mais angústia e agressão provocam neles. E são precisamente os pais que querem controlar tudo que muitas vezes fazem a experiência de que acontece exatamente aquilo que eles haviam receado.

Aqui ajuda a fé de que um Anjo da Guarda preserva a criança dos perigos. Mas o que irão fazer os pais com esta fé, quando seu filho apanha dos outros no caminho da escola, ou quando chega mesmo a ser vítima de abuso sexual? O Anjo da Guarda não é responsável por tudo.

Não podemos sobrecarregá-lo. O que nós mesmos podemos fazer, temos também de fazê-lo. Sobretudo devemos ser prudentes, e avaliar corretamente a realidade deste mundo. Não obstante, permanece de pé aquela "esfera intermediária", que não pode ser prevista nem arrumada. Aqui ajuda quando os pais recomendam os filhos a seus Anjos da Guarda. Isto os alivia da própria preocupação. Pois, mesmo com todas as suas preocupações, eles não podem garantir que o filho volte são e salvo da escola ou do jardim de infância, ou que não se fira no jogo. Quem, por medo de que algo possa acontecer tenta proteger o filho de todos os perigos, torna o filho cego para os perigos reais. A criança tem que fazer experiências para ver de que é capaz. E aqui sempre pode ocorrer alguma coisa, ela pode avaliar erradamente os seus limites. A confiança no Anjo da Guarda deve andar de mãos dadas com as medidas de segurança. Não sabemos explicar por que há crianças que apesar de seus Anjos da Guarda, enfrentam perigos e chegam a morrer. Podemos rezar aos Anjos da Guarda. Mas não temos nenhuma garantia de que eles intervenham. É sempre também uma graça divina, da qual nós não podemos dispor, quando nos é dado fazer a experiência de que um Anjo da Guarda nos salvou de um perigo.

Todo adulto já deve ter passado alguma vez pela experiência de estar a ponto de incorrer em algum perigo e de sofrer algum dano. Ele tentou, por exemplo, a ultrapassagem na estrada, sem ver o outro carro que já vinha ultrapassando. Mais uma vez tudo correu bem. Muitos dizem então espontaneamente: "Eu tenho um bom Anjo da Guarda". Ou então se deparou subitamente com um engarrafamento, e ainda teve tempo de frear. Ou o carro virou e ele escapou são e salvo. Todas estas são ocasiões em que acreditamos que um Anjo da Guarda preservou-nos de desgraças. Em momentos como estes não são apenas os cristãos convictos que acreditam no Anjo da Guarda. Às vezes até mesmo os ateus são capazes de falar aqui do seu Anjo da Guarda. Nesse momento ele sente que se encontra sob uma proteção maior, uma proteção que escapa ao seu poder. Um Anjo da Guarda assim inspira a confiança de que sempre se haverá de chegar são e salvo quando se vai de carro para o trabalho. Ele nos tira o medo de tarefas que precisamos resolver e que também podem resultar em fracasso.

A ideia do Anjo da Guarda é tão amplamente difundida que pode ser encontrada em toda alma humana. Os judeus falavam dele, os gregos chamavam-no daimon, os romanos genius. Mesmo que hoje muitos não acreditem mais em Deus, ou encontrem dificuldades para entrar em relação pessoal com Deus, eles creem mesmo assim no Anjo da Guarda. É uma espécie de "fé que busca" Deus. Pois quem fala do Anjo da Guarda sabe que ele vem de Deus, que Deus mesmo colocou a seu lado um Anjo da Guarda. Mas quem fala do Anjo da Guarda não tem ainda que professar toda a doutrina e todo o dogma cristão. Ele está expressando com isto uma experiência que faz sempre de novo. Uma experiência que o abre para a dimensão dos Anjos. Anjos são criaturas de Deus; e em nossa condição de criaturas, na constelação concreta de perigos, nas viagens, num incêndio, numa derrapagem na estrada, a presença salvadora de Deus se manifesta nos Anjos da Guarda. O Anjo é uma concretização de Deus. Nele Deus atua dentro do nosso dia-a-dia. Este lampejo divino em nossa vida é reconhecido hoje por um número substancialmente maior de pessoas do que aquelas que chamam Deus expressamente de pai e mãe.

Mas Jesus diz a respeito dos Anjos da Guarda que eles veem a face de Deus. Toda pessoa tem uma relação com Deus através do seu Anjo. Cada qual está diretamente ligado a Deus. Através do Anjo da Guarda, cada um atinge a esfera divina, sem ficar limitado ao que pode ser visto, ao que pode ser feito. Está envolvido por um mistério. Não está só quando se encontra desacompanhado. Não está abandonado quando anda sozinho pelo mato. A linguagem religiosa, que também na era pós-moderna é para muitos perfeitamente possível, seria assim traduzida pela psicologia: a ideia do Anjo da Guarda põe o ser humano em contato com as forças de proteção e preservação do seu inconsciente. Ajuda-o a prestar mais atenção a si mesmo e a envolver-se com a vida de uma maneira menos angustiosa. O que a psicologia sente dificuldades de explicar, isto inconscientemente se torna claro para a maioria das pessoas. Os homens não vivem apenas a realidade de sua razão crítica, mas vivem também naquela "esfera intermediária" em que têm conhecimento de uma ligação entre o céu e a terra, entre realidade visível e invisível. E como desde a infância estão familiarizados com esta "esfera intermediária", eles compreendem as ideias do Anjo da Guarda sem precisar de intermediários. Sem que precisem refletir criticamente sobre isto, no fundo do coração eles estão convencidos de que um Anjo da Guarda os acompanha e os preserva dos perigos.

Helmut Hark, pároco e psicoterapeuta evangélico, em sua terapia trabalha muitas vezes com a imagem do Anjo da Guarda. Num grupo de auto experiência terapêutica, ele levou os participantes, homens e mulheres, a refletirem sobre a importância pessoal do seu Anjo da Guarda. Apareceram respostas como as que seguem:
"Ele protege no caminho, dá coragem e apoio moral, afasta o mal, atua beneficamente nas desgraças. Através dele as coisas se ajeitam. Manifesta-se nas situações-limite. Por ele recebo impulsos para boas ações. É o irmão gêmeo de minha alma. É meu protetor e padroeiro pessoal. Às vezes eu sou advertido por ele. Para mim é uma inteligência superior. Fala-me através de uma voz interior. É o modelo espiritual de minha alma... Inspira minha imaginação. Por ele atuam energias benéficas de salvação. Ele me inspira a ideia salvadora" (Hark, 141s).

Estas frases mostram que mesmo pessoas distanciadas da Igreja possuem hoje uma ideia de não terem sido deixadas sozinhas. Na ideia de que são acompanhadas por um Anjo da Guarda, que as preserva de perigos e intervém para salva-las, se expressa sua fé na proteção e na ajuda divinas. Tais pessoas muitas vezes não são capazes de se imaginarem Deus. Mas no Anjo Deus se torna concreto para elas. Aqui Deus entra no mundo do seu dia-a-dia.

Na terapia, muitas vezes a ideia do Anjo da Guarda pessoal atua dando força e curando. Helmut Hark relata, por exemplo, de uma mulher que sempre de novo era impelida por fortes ideias de suicídio. Num sonho ela viu um Anjo "que transmitiu uma nova sensação de vida, até então desconhecida" (Hark, 143). De repente, as ideias de suicídio foram como que varridas do mapa. Hark fala das energias espirituais do Anjo da Guarda, que muitas vezes rompem e curam padrões autodestrutivos da vida.
A fé no Anjo da Guarda pessoal é mais do que a ideia de um Anjo bonitinho que me acompanha por toda parte. Como adultos, quando acreditarmos em nosso Anjo da Guarda, superaremos não apenas os nossos medos frente aos perigos do dia-a-dia na rua e no trabalho, ou às doenças graves. O Anjo da Guarda há de transmitir-nos também a sensação de que atravessamos reconfortados nossas crises pessoais. E quem talvez numa terapia se ocupa com a história de seus próprios ferimentos, e muitas vezes não sabe o que fazer, não sabe como irá se sair das complicações da infância, sempre de novo há de experimentar o benéfico efeito do seu Anjo da Guarda.

Apreender intelectualmente nossas feridas e agravos não nos devolve a saúde. Muitos ficam então desesperados consigo mesmos e com os agravos de sua história de vida. A fé no Anjo da Guarda nos traz então a confiança de que em meio a este processo terapêutico acontece algo assim como um milagre, que do fundo da alma surge uma força benéfica, que um Anjo nos aparece em sonho e nos transmite uma profunda compreensão, e que, de repente, o medo ou a ideia do suicídio desaparecem sem que se saiba por quê. A fé no Anjo da Guarda liberta-nos da fixação sobre os fatores doentios de nossa vida. Ela nos faz também descobrir as energias benéficas que se encontram em nós. Já em nossa infância o Anjo da Guarda nos acompanhava e nos preservava. E agora ele está ao nosso lado e dentro de nós, agindo hoje sobre nós, preservando-nos e curando-nos.

Fonte:
Livro “Cada pessoa tem um Anjo” – Monge Anselm Grun



segunda-feira, 23 de setembro de 2019

35º dia – As aparições do Anjo de Portugal precedendo as aparições de Nossa Senhora de Fátima





O Anjo de Portugal, embaixador da Rainha do Céu
As aparições de Nossa Senhora em Fátima foram precedidas por três visões que Aparição que Lúcia, Francisco e Jacinta tiveram do Anjo de Portugal, ou da Paz. Por meio dos colóquios com o Anjo, a Providência predispunha as crianças para o momento em que Nossa Senhora lhes falaria.

Primeira aparição do Anjo
As aparições do Anjo ocorreram entre abril e outubro de 1915, em uma colina próxima da Cova da Iria, denominada Cabeço. Algumas manifestações sobrenaturais antecederam a aparição do Anjo. Lúcia, e mais três outras meninas, viram pairar sobre o arvoredo do vale, uma espécie de nuvem alvíssima com forma humana, “uma figura, como se fosse uma estátua de neve, que os raios do sol tornavam ainda mais transparente”, segundo as palavras de Lúcia. Em dias diferentes, esta aparição se repetiu duas vezes.
Foi na Loca do Cabeço, onde, um dia de primavera de 1916, que o Anjo apareceu claramente pela primeira vez.
Depois de rezar, as crianças estavam brincando quando um forte vento sacudiu as árvores. Elas veem, então, caminhando sobre o olival em sua direção, um jovem resplandecente e de grande beleza, aparentando ter 15 anos, de uma consistência e um brilho como o do cristal atravessado pelos raios do sol. A Irmã Lúcia assim conta o que se seguiu:
“Ao chegar junto de nós, disse:
– Não temais! Sou o Anjo da Paz, disse:
E, ajoelhando em terra, curvou a fronte até o chão e fez-nos repetir três vezes estas palavras:
– Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos! Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e Vos não amam.
Depois, erguendo-se, disse:
– Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas”.
E desapareceu.
A atmosfera de sobrenatural que nos envolveu era tão intensa que quase não nos dávamos conta da própria existência por um grande espaço de tempo, permanecendo na posição em que nos tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração. A presença de Deus sentia-se tão intensa e íntima que nem mesmo entre nós nos atrevíamos a falar. No dia seguinte, sentíamos o espírito ainda envolvido por essa atmosfera que só muito lentamente foi desaparecendo.”

Segunda aparição do Anjo
No verão de 1916, quando os três pastorzinhos brincavam no terreiro da casa dos pais de Lúcia, aparece-lhes novamente o Anjo. Ele lhes diz, segundo a narração da Irmã Lúcia:
“- Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.
– Como nos havemos de sacrificar? – perguntei.
– De tudo o que puderdes, oferecei a Deus sacrifício, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim sobre a vossa pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar.”

Terceira aparição do Anjo
No fim do verão ou princípio do outono do mesmo ano, novamente na Loca do Cabeço, deu-se a última aparição do Anjo, descrita pela Irmã Lúcia nos seguintes termos:
“Depois de termos merendado, combinamos ir rezar na gruta, que ficava do outro lado do monte. […] Logo que aí chegamos, de joelhos, com os rostos em terra, começamos a repetir a oração do Anjo: Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos! Etc. Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando vemos que sobre nós brilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava, e vemos o Anjo tendo na mão esquerda um cálice, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem algumas gotas de Sangue dentro do cálice.” Deixando o cálice e a Hóstia suspensos no ar, o Anjo prostrou-se em terra junto às crianças e fê-las repetir três vezes a oração:

 “Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos de seu Santíssimo Coração [de Jesus] e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”.

Depois, levantando-se, deu a Hóstia a Lúcia, e o cálice, deu-o a beber a Francisco e Jacinta, dizendo:
“- Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos! Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus. ”As palavras do Anjo produziram profunda impressão nas três crianças, as quais, a partir de então, começaram a expiar pelos pecadores por meio de sacrifícios e de uma assídua vida de oração.
E prostrando-se de novo em terra, repetiu conosco outras três vezes a mesma oração: ‘Santíssima Trindade… etc.’ e desapareceu.
Nós permanecemos na mesma atitude, repetindo sempre as mesmas palavras; e quando nos erguemos, vimos que era noite e, por isso, horas de virmos para casa.”

Fonte:
http://fatima.arautos.org/o-anjo-de-portugal/



sábado, 21 de setembro de 2019

34º dia – Santo Padre Pio e o combate com o demônio





Texto de Padre Gabriele Amorth, exorcista do Vaticano:
Padre Pio foi bastante amado, mas sabia bem que haviam os inimigos terríveis, que o odiavam à morte. Não eram os homens, que podem ter se enganado por informações recebidas, por preconceitos, por incompreensões. Os verdadeiros inimigos eram os demônios; inimigos do padre e inimigos de qualquer um de nós.

Creio que na vida de Padre Pio se pode deparar, de modo bastante evidente, a uma realidade na qual muitos não creem, porque esses espíritos agem ocultamente. É uma realidade terrível que São Paulo exprime assim:

“Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos que lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares” (Ef 6,11-12).

A indicação que São Paulo fala dos demônios é muito precisa, porque os chama com o nome de sua ordem de classificação. Creio que esta tenha sido uma das missões de Padre Pio: uma luta evidente, para ele visível, contra o verdadeiro e oculto inimigo; o terrível inimigo de todos.

Muitas vezes, principalmente nas transmissões televisivas, me perguntam se vi o diabo e como poderia descrevê-lo. O diabo, como todo o mundo angélico ao qual faz parte, é um espírito; não possui um corpo, não é visível e não é descritível. Se é visto de modo sensível, deve se servir de uma forma fictícia, que assume de acordo com o que vai provocar.

É como os anjos. Quando o arcanjo Rafael se ofereceu de acompanhar o filho de Tobit, tinha a aparência de um jovem com trajes de viagem; Santa Francesca Romana via seu anjo da guarda na forma de um menino belíssimo, e é por isso que vem representada perto de um jovem; outras aparições angelicais assumiram a imagem de um ser luminoso. Adotam aparências diferentes para percebermos sua presença, mas não de acordo com a sua realidade, a realidade de um ser espiritual.

O demônio também segue esse critério. Para fazer notar sua presença, recorre a um aspecto que corresponde ao que vai provocar: medo, sedução, engano. Notamos que Padre Pio, no final da primeira infância, havia tido visões celestiais, tanto que acreditava ser um fato comum a todos. Mas viu também os demônios, quase sempre com aspectos horríveis, que o amedrontavam profundamente. E por toda a sua vida continuou a ver esses seus inimigos cruéis, em aspectos diversos, quase sempre na sua pessoa maligna, ainda que a veste não fosse aquela real de sua natureza de puro espírito.

Em algumas vezes o padre havia visto os demônios como seres horríveis, que o atormentavam, o batiam com ruídos de corrente, deixando-o marcado e sangrando. Outras vezes apareciam como horríveis animais, rosnando e aterrorizando. É muito significativa a descrição dos assaltos demoníacos, que ele fez de onde os superiores o haviam mandado em 1911, para que completasse os estudos e aprendesse as eloquências sacras.

Foi uma das tantas visitas breves e sofridas, que terminaram com o retorno à sua região de Pietrelcina. Foi em Venafro que pela primeira vez se manifestou claramente o mundo interior de Padre Pio, seja pelos assaltos dos demônios, seja pelo êxtase que sempre o seguiram, quando o padre falava livremente ao Senhor ou à Mãe, sem se dar conta se qualquer irmão estava presente e escutava.

O demônio aparecia algumas vezes em forma de um gato negro e selvagem, ou de animais repugnantes: era clara a intenção de incutir o terror. Outras vezes aparecia na forma de jovens moças nuas e provocativas, que dançavam de modo obsceno; era clara a intenção de tentar o jovem sacerdote na sua castidade.

Mas o maior perigo era quando o demônio tentava enganar Padre Pio aparecendo de forma sacra (o Senhor, a Virgem, São Francisco…), sobretudo na forma de pessoas as quais era submisso (o superior da casa, o superior provincial, seu diretor espiritual…). Para este último caso Padre Pio havia preparado um método de discernimento que depois sugeriu a alguns de seus filhos espirituais e que encontramos já em Santa Teresa d’Ávila, mesmo que Padre Pio não tenha lido os escritos da santa carmelita. O que fazer para distinguir? Quando aparecia verdadeiramente o Senhor, a Virgem, o anjo de guarda, o padre havia notado que uma rápida sensação de temor, de espanto; mas depois, terminada a aparição sentia grande paz.

Quando, ao contrário, era o maligno que se apresentava em uma aparência sacra, o padre sentia uma alegria imediata, atrativa; mas depois ele tinha a impressão amarga, uma grande sensação de tristeza.

E as almas próximas, o que via Padre Pio? Talvez visse claramente o despojo de Satanás.

Em todo caso, Padre Pio o disse à pessoa interessada e somente a ela. Penso que normalmente não visse o demônio, mas o combatia com força; sabia muito bem a sua ação principal, aquela à qual todos nos sujeitamos, da tentação. Ainda, durante as confissões, fazia gestos com as mãos como que para afastar qualquer coisa. Rezava ao Senhor para libertar o penitente das tentações ou dos hábitos cativos; Santo Afonso, que é mestre nesta matéria, sugeria que os confessores, em certos casos, fizessem mentalmente um pequeno exorcismo, antes de proceder a confissão.

Creio que se possa dizer com certeza que a maior luta de Padre Pio com o demônio acontecia para salvar as almas, seja na confissão, seja quando rezava por todos os seus filhos. Recordo que na luta contra a ação extraordinária do demônio, Padre Pio tinha um particular poder e um particular discernimento, como vemos em tantos santos e santas, por serem exorcistas e não como faziam o exorcismo. Muitas vezes encontrou pessoas possessas pelo demônio e o comportamento do padre variava de caso em caso.

Direi que havia um particular discernimento de saber se a pessoa estava pronta ou não para a libertação. Uma vez um sacerdote acompanhou um jovem, carregado por dois robustos amigos, que no momento da comunhão gritou e contorceu-se com força; os olhos de Padre Pio somente tremeram, o padre olhou fixamente para ele e disse somente uma palavra: “Vá-te”. Naquele momento o jovem foi libertado.

Mas as libertações imediatas são raras. Lembro de uma moça que vinha acompanhada no momento da Comunhão porque era muito perturbada pelo Maligno: batia os dentes, virava e revirava a cabeça; Padre Pio estava com uma partícula na mão e se recusava a lhe dar a Comunhão.

Uma outra vez, o padre Faustino Negrini foi acompanhado de uma moça, Agnese Salomoni, saída de uma possessão tremenda, “porque era a melhor moça da paróquia”, e haviam feito um malefício contra ela. Agora aquele sacerdote, pároco de Torlone Casaglio (Brescia) não sabia que terminaria sua longa vida como exorcista diocesano. Padre Pio deu uma simples benção, que parecia sem fruto. Depois encarregou o pároco de terminar a libertação, que, precisou de três anos de orações! Creio que Padre Pio havia entendido que não era a hora de libertá-la.

Outras vezes, o Padre aconselhou exorcistas, em quase todos os casos, recomendando-os. Foi assim com Pe. Cipriano, de S. Severo e com Pe. Cândido, de Roma; encorajou e acompanhou o confrade Pe. Tarcíssio de San Giovanni Rotondo, que escreveu um pequeno livro sobre este lado da vida de Padre Pio.

Padre Pio sempre obedeceu as autoridades eclesiásticas, também a custo de um heroico sofrimento, sempre com estima e amor. A luta de toda a sua vida foi ininterruptamente conduzida contra o inimigo de Deus e das almas, o demônio.

Ele os viu em múltiplas formas e levou muitas pancadas, que penso terem sido permitidas para recordar o mundo incrédulo de hoje sobre essa presença. Os fatos externos, visíveis e dolorosos de Padre Pio dão uma pequena ideia dos acontecimentos ocultados, da gravidade do pecado, contra tudo aquilo o que devemos lutar.

Seu dia a dia se desenrolava com o ritmo monótono e árduo de sempre. As várias proibições não atingiram o movimento dos fiéis, que encontravam em Padre Pio um confessor, um padre educador, aquele que sabia corrigir as vidas desencaminhadas e levá-las a Deus. Não era percebido o seu sofrimento, mesmo que estivesse continuamente sofrendo.

Os tempos tenebrosos não fizeram Padre Pio perder o afetuoso contato com os seus filhos espirituais e nem o bom senso de humor, que se manifestava sempre nos momentos de recreação com os confrades, aos quais se juntavam também alguns de seus filhos espirituais mais ativos.

(Padre Pio Breve história de um santo, do Pe. Gabriele Amorth)



sexta-feira, 20 de setembro de 2019

33º dia – O Padre Pio e os anjos da guarda





O Santo Padre Pio, durante sua vida, teve encontros com anjos e chegou a conhecê-los bem. E também recebeu locuções interiores que teve de discernir de quem vinham e como deveria agir com relação a elas.
Em uma carta escrita em 15 de julho de 1913 a Anitta, ele oferece uma série de valiosos conselhos sobre como agir com relação ao anjo da guarda, às locuções e à oração.

“Querida filha de Jesus:
Que o seu coração sempre seja o templo da Santíssima Trindade, que Jesus aumente em sua alma o ardor do seu amor e que Ele sempre lhe sorria como a todas as almas a quem Ele ama. Que Maria Santíssima lhe sorria durante todos os acontecimentos da sua vida, e abundantemente substitua a mãe terrena que lhe falta.

Que seu bom anjo da guarda vele sempre sobre você, que possa ser seu guia no áspero caminho da vida. Que sempre a mantenha na graça de Jesus e a sustente com suas mãos para que você não tropece em nenhuma pedra. Que a proteja sob suas asas de todas as armadilhas do mundo, do demônio e da carne.

Você tem uma grande devoção a esse anjo bom, Anita. Que consolador é saber que perto de nós há um espírito que, do berço ao túmulo, não nos abandona em nenhum instante, nem sequer quando nos atrevemos a pecar! E este espírito celestial nos guia e protege como um amigo, um irmão.

É muito consolador saber que esse anjo ora sem cessar por nós, oferece a Deus todas as nossas boas ações, nossos pensamentos, nossos desejos, se são puros.

Pelo amor de Deus, não se esqueça desse companheiro invisível, sempre presente, sempre disposto a nos escutar e pronto para nos consolar. Ó deliciosa intimidade! Ó deliciosa companhia! Se pudéssemos pelo menos compreender isso...!

Mantenha-o sempre presente no olho da sua mente. Lembre-se com frequência da presença desse anjo, agradeça-lhe, ore a ele, mantenha sempre sua boa companhia. Abra-se a ele e confie seu sofrimento a ele. Tome cuidado para não ofender a pureza do seu olhar. Saiba disso e mantenha-o bem impresso em sua mente. Ele é muito delicado, muito sensível. Dirija-se a ele em momentos de suprema angústia e você experimentará sua ajuda benéfica.

Nunca diga que você está sozinha na batalha contra os seus inimigos. Nunca diga que você não tem ninguém a quem abrir-se e em quem confiar. Isso seria um grande equívoco diante desse mensageiro celestial.

No que diz respeito às locuções interiores, não se preocupe, tenha calma. O que se deve evitar é que o seu coração se uma a estas locuções. Não dê muita importância a elas, demonstre que você é indiferente. Não despreze seu amor nem o tempo para essas coisas. Sempre responda a estas vozes:

“Jesus, se és Tu quem está me falando, permite-me ver os fatos e as consequências das tuas palavras, ou seja, a virtude santa em mim.”

Humilhe-se diante do Senhor e confie nele, gaste suas energias pela graça divina, na prática das virtudes, e depois deixe que a graça aja em você como Deus quiser. É a virtude que santifica a alma, e não os fenômenos sobrenaturais.

E não se confunda tentando entender que locuções vêm de Deus. Se Deus é seu autor, um dos principais sinais é que, no instante em que você ouve essas vozes, elas enchem sua alma de medo e confusão, mas logo depois a deixam com uma paz divina. Pelo contrário, quando o autor das locuções interiores é o diabo, elas começam com uma falsa segurança, seguida de agitação e um mal-estar indescritível.

Não duvido em absoluto de que Deus seja o autor das locuções, mas é preciso ser cautelosos, porque muitas vezes o inimigo mistura uma grande quantidade do seu próprio trabalho através delas.

Mas isso não deve assustá-la; a isso foram submetidos os maiores santos e as almas mais ilustradas, e que foram acolhidas pelo Senhor.

Você precisa simplesmente ter cuidado para não acreditar nessas locuções com muita facilidade, sobretudo quando elas se digam como você deve se comportar e o que tem de fazer. Receba-as e submeta-as ao juízo de quem a dirige espiritualmente. E siga a sua decisão.
 Portanto, o melhor a se fazer é receber as locuções com muita cautela e indiferença constante. Comporte-se dessa maneira e tudo aumentará seu mérito diante do Senhor. Não se preocupe com sua vida espiritual: Jesus a ama muito. Procure corresponder ao seu amor, sempre progredindo em santidade diante de Deus e dos homens.

Ore vocalmente também, pois ainda não chegou a hora de deixar estas orações. Com paciência e humildade, suporte as dificuldades que você tem ao fazer isso. Esteja sempre pronta também para enfrentar as distrações e a aridez, mas nunca abandone a oração e a meditação. É o Senhor que quer tratá-la dessa maneira para seu proveito espiritual.

Perdoe-me se termino por aqui. Só Deus sabe o muito que me custa escrever esta carta. Estou muito doente; reze para que o Senhor possa desejar me livrar desse pequeno corpo logo.

Eu a abençoo, junto à excelente Francesca. Que você possa viver e morrer nos braços de Jesus.

Pe. Pio”

Fonte:
http://www.aleteia.org/pt/religiao/artigo/o-padre-pio-e-os-anjos-da-guarda-5777165983416320



quinta-feira, 19 de setembro de 2019

32º dia – Relatos atuais sobre os Anjos após a “quase” morte – Parte 4





Eu me dei conta de que não caminhava sozinha
Às 3h 30min de uma madrugada de junho de 1959, Glenn Perkins acordou de repente, depois de sonhar que sua filha, gravemente doente e hospitalizada, precisava dele. Ele se vestiu, comeu alguma coisa rapidamente, instalou-se ao volante por volta das 4h15min e dirigiu-se para o hospital. Chegou lá às cinco horas. No mesmo momento, no quarto 336 do Union Hospital de Indiana, Terre-Haute, o médico constatava a morte de Betty e a declarava oficialmente morta. A apendicite gangrenada, acrescida de uma espécie de pneumonia, tinha destruído seu estômago e os seus ovários, antes de afetar o resto do corpo. O lençol do leito foi estendido sobre seu rosto pela enfermeira, que saiu sem fazer ruído para dar a notícia aos pais. Enquanto ela telefonava e preenchia os formulários administrativos relativos ao falecimento, Glenn Perkins subiu os degraus de três em três, bruscamente invadiu o quarto e viu o lençol cobrindo o rosto de sua filha. Estupefato, ele se jogou sobre o leito e rezou, chorando, "Jesus, Jesus"...

Betty, por sua vez, se encontrava do outro lado. Essa experiência a abalou tanto que, em 1977, ela publicou seu relato nos mínimos detalhes (My flimpse of eternity, 1977, Berry Malz, Chosen Books, Nova York). O mais notável em sua história é que ela não se lembra de ter passado por um túnel:

“A transição foi serena e tranquilizadora. Eu despertei ao pé de uma belíssima colina. Apesar de escarpada, eu a escalei sem nenhum esforço e um profundo êxtase invadiu meu corpo. A minha volta toda estendia-se um maravilhoso e profundo céu azul, sem nenhuma nuvem. Olhando de novo, reparei que não havia nenhuma estrada, nem caminho. Entretanto, eu parecia saber aonde ia. Então me dei conta de que não estava caminhando sozinha. À minha esquerda, e um pouco atrás de mim, havia um grande personagem, de aspecto masculino, trajando uma túnica. Perguntei-me se seria um anjo e tentei ver se ele tinha asas. Mas de frente, eu não podia ver suas costas. Senti, no entanto, que ele podia ir por todo canto onde quisesse, e muito rapidamente. Nós não falávamos. De certo modo, isso não parecia necessário, já que seguíamos na mesma direção. Eu percebi que ele não me era estranho. Ele me conhecia e eu sentia uma estranha cumplicidade. Onde já nos teríamos encontrado? Será que nos conhecíamos desde sempre? Parecia que sim. Aonde estaríamos indo agora?

Como caminhávamos juntos, eu não via o sol, mas a luz estava por toda parte. Senti que nós podíamos ir aonde quiséssemos e instantaneamente. A comunicação entre nós era feita através de projeções de pensamentos. Justo no instante em que atingíamos o topo da colina, eu ouvi a voz do meu pai chamando "Jesus, Jesus". Sua voz parecia distante. Pensei em dar meia-volta para ir encontrá-lo. Não fiz isso porque eu sabia que meu destino estava à frente. (...) O anjo parou à minha frente e colocou a palma da sua mão sobre uma porta que eu não tinha observado antes. Eu vi o que parecia (por trás da porta) uma rua em tons dourados coberta de vidro ou de água. A luz amarela que apareceu era deslumbrante. Impossível descrevê-la. Não vi nenhuma silhueta, mesmo tendo a consciência de haver ali uma pessoa. De repente, soube que aquela luz era Jesus, que a pessoa era Jesus. Eu não precisava me mexer.
A luz estava toda à minha volta. Parecia que havia um certo calor lá dentro, como se eu estivesse exposta aos raios de sol; meu corpo começou a irradiar. Cada parte de mim estava absorvida por essa luz. Eu me sentia envolvida pelos raios dessa energia poderosa, penetrante e magnética. O anjo me olhou e me comunicou o pensamento: "Você quer entrar e reunir-se a eles?" Todo meu corpo queria entrar lá, mas eu hesitei. Eu tinha escolha? Então me lembrei da voz do meu pai. Talvez eu devesse partir e encontrá-lo. "Eu gostaria de ficar e cantar um pouco mais, e depois voltar para a colina", respondi finalmente. Mas era tarde demais. Suavemente, as portas se uniram numa folha de pérolas e nós recomeçamos a descer a mesma magnífica colina. Dessa vez, a parede estava à minha esquerda e o anjo caminhava à minha direita”.

Betty reintegrou-se ao seu corpo e ao seu leito, com textos do Evangelho dançando diante de seus olhos. Foi seu pai que, sempre ao pé do leito, detectou um movimento sob o lençol e chamou as enfermeiras. No hospital ninguém conseguiu compreender como ela pôde voltar, pois já estava morta. Emagrecida devido às semanas de tratamento médico intensivo e à ausência quase total de alimentos, Betty quis comer em seguida, para o maior espanto da equipe hospitalar, que a proibiu formalmente. Ela não se deu por vencida. Por acaso, uma bandeja de refeição, que não era para ela, aterrissou em seu quarto pouco depois de seu retorno da colina. Por acaso? Ela atacou a bandeja e a limpou rapidamente. Não houve nenhuma consequência desastrosa. Seu médico a advertiu: seus ovários, atacados pela infecção maciça, nunca poderiam cumprir suas funções. Ele chegou até a aconselhá-la a retirá-los cirurgicamente, e, antes dessa operação, usar um método contraceptivo para evitar a concepção de um bebê deformado. Alguns dias mais tarde, ela deixou o hospital em perfeita saúde, fez amor em seguida, e engravidou. Ela não teve absolutamente nenhuma sequela de sua doença, e seu bebê nasceu perfeito. Isso se chama um milagre documentado.

Voltemos à NDE. Ela despertou após sua morte e andou numa direção determinada que ela parecia conhecer. De repente, ela se virou e descobriu que não estava sozinha. Um personagem de aspecto masculino, vestido com uma túnica branca, estava atrás dela. Betty Malz escreveu em 1986, num segundo livro, que ela nunca poderia ter imaginado um ser dotado de tal beleza, de tal poder e segurança Ela utilizou em seguida o termo anjo, e quis verificar se ele tinha asas! Não, ele não tinha, mas ela teve a sensação de conhecê-lo há muito tempo. Sentiu também que ele era capaz de se deslocar numa fração de segundo para onde quisesse: "Ele me conhecia e eu sentia uma estranha cumplicidade. Onde já nos teríamos nos encontrado? Será que nos conhecíamos desde sempre? Parecia que sim.” (...)
Após uma breve observação dessa nova Jerusalém, Betty é levada suavemente para a célebre pseudo-escolha: "Você quer entrar?".

Ela tenta encontrar um meio-termo, mas não consegue. Volta ao corpo acompanhada por seu guia. Ao reencontrar seu corpo físico, Betty Maiz não imaginava que esse sonho acordado mudaria toda a sua vida.

Uma escada de anjos
O herdeiro do célebre instituto de pesquisas de opinião Gallup, Georges Gallup Jr., leu as obras de Moody e se apaixonou assunto a ponto de realizar uma pesquisa sobre as NDE (EQM) em âmbito nacional, o que, se levarmos em conta as dimensões dos Estados Unidos, foi uma façanha inédita.

Os resultados dessa pesquisa o surpreenderam e ele decidiu analisá-las em profundidade. Seu livro, Adventures in immortality (McGrow Hill, 1982, Nova York), é apaixonante pois apresenta um quadro preciso sobre o que se passa após a morte e, sobretudo, ao confrontar todos os depoimentos reunidos por seus pesquisadores, sobre o que descobriremos talvez no céu. Seus resultados confirmam, em todos os pontos, as sínteses de Moody e Ring. Entre seus relatos, encontramos o caso, realmente fora do comum, duma enfermeira da Pennsylvania, que tinha 70 anos no momento da entrevista. Ela contou aos pesquisadores da Gallup a experiência que vivera 53 anos antes, quando decidiu dar à luz em casa.

O médico da família enfrentou alguns problemas no momento do parto, e teve de usar o fórceps, o que provocou complicações internas. Uma semana após o nascimento, o médico a examinou e decidiu hospitalizá-la imediatamente. Ela ficou três dias no hospital, antes de ser tomada a decisão de operá-la. Seu marido, no entanto, não concordou com a operação, que poderia provocar danos físicos irreparáveis.

“Eu estava tão doente que não podia sequer me levantar da cama. Era uma tarde de domingo. Meu marido tomou um táxi e me transportou em seus braços, como um bebê. Curiosamente, no caminho, eu recuperei algumas forças. O fato foi que eu saí do táxi e caminhei para o nosso apartamento, que ficava no terceiro andar. Troquei os lençóis da cama e a arrumei a meu modo. Em seguida, me despi e me enfiei na cama. Eu me sentia maravilhosamente bem. Nunca sentira uma tal sensação de bem-estar antes, e nem depois disso. Minha família e meus vizinhos estavam todos ali, pois todos ficaram aturdidos ao verem a mudança milagrosa que acontecera em mim. Então, exatamente como se alguém falasse comigo, uma voz me disse que eu ia morrer e que deveria informar meu marido e minha família. Então eu os reuni todos no meu quarto.

Segurando a mão de meu marido, eu lhe disse: "Vocês todos devem se preparar para encontrar seu Deus, porque eu vou encontrar o meu.” Eu estava calma, não sentia dores nem sofria, ao passo que, ao deixar o hospital, três horas antes, a dor era intolerável. Podia-se dizer que eu estava numa espécie de transe. Nesse momento, eu tive uma visão. Parecia que todos aqueles anjos vinham do céu e, estendendo suas mãos, formavam uma escada que ia até o céu. Ao subir aquela escada eu parecia saber tudo o que estava acontecendo na minha casa. Minha família e meus vizinhos choravam e meu marido estava ajoelhado ao pé da cama suplicando a Deus que me poupasse pelo bem do bebê. Continuei a subir a escada formada pelas mãos dos anjos até atingir o paraíso. Quando cheguei ao topo, havia uma neblina diante da porta, e um anjo me disse: "Essa neblina é a prece de sua familia para que voce volte. Por que você não pede ao Senhor para deixá-la voltar para criar seu filho?" Depois de atravessar a neblina, pude distinguir aquela pessoa sentada sobre um trono, envolvida por aquela neblina. Eu disse: "Senhor, por favor, deixe-me voltar e criar meu filho." Ele não respondeu, mas tomou minha mão e me reconduziu de volta à escada, para descer. Nesse meio tempo, a família tratava meus funerais com o serviço funerário, e enviava telegramas. Quando eu voltei, gritei e cantei. Tenho certeza de que você pode imaginar que tipo de dia foi aquele. Na época, eu tinha 17 anos. Hoje tenho 70, e somente um filho.”

Esse caso é muito curioso porque uma voz previne a pessoa de que vai morrer e lhe pede para informar os membros da família a respeito. Até hoje, nunca observamos outro aviso desse tipo, mesmo admitindo que possa ter vindo de seu anjo da guarda. Ora, se o anjo não parece se manifestar visualmente a seu protegido, ele é substituído por uma legião de anjos, que surge do céu e faz uma escada com suas mãos para ajudar a pessoa a subir até o trono de Deus. Isso parece completamente maluco. O problema é que, dado o campo em que procuramos evoluir sem perder a razão, esse caso é atípico. Poderíamos considerar como uma alucinação.

A pessoa, no entanto, estava clinicamente morta, afinal seus familiares começaram a enviar telegramas. Além disso, a testemunha emprega o termo visão, exatamente como os maiores místicos, que veremos à frente. Além disso, sua visão não deixa de lembrar o capítulo 28 do Gênesis, em que Jacó, adormecido ao pé de um rochedo, sonha com uma escada com anjos que sobem e descem do céu. Ela chega, finalmente, ao topo dessa escada estranha onde um outro anjo a aguarda e meio a neblina, "a prece de sua família pelo seu retorno". A ajuda do anjo é clara: ele sugere a solução à alma que chega ao julgamento. Mesmo que tudo isso nos pareça um tanto alegórico, o relato não é mais sobrenatural do que todos os depoimentos que vimos anteriormente.


Fonte:
Livro “Relatos sobre a existência dos Anjos da Guarda” – do jornalista Pierre Jovanovic – Editora Anagrama



quarta-feira, 18 de setembro de 2019

31º dia – Relato atual sobre os Anjos após a “quase” morte – Parte 3





Um anjo do meu lado
Este depoimento absolutamente alucinante me foi relatado por Kenneth Ring, e eu nunca poderei lhe agradecer o bastante. Trata-se de Bob H., hospitalizado em 1979, para uma cirurgia na perna, que num acidente de automóvel. Relato excepcional de um sobrevivente nunca teria imaginado que poderia descobrir horizontes semelhantes. Quanto ao seu anjo da guarda, ele se encontra no centro do relato. E nos damos conta de que nem todas as NDE se parecem. Existem, às vezes, tantas diferenças entre uma NDE e outra que nos perguntamos sobre quais critérios se baseia o Grande Organizador para dar a um apenas a visão do túnel escuro e a outros um panorama completo, com visita guiada, dos mistérios do céu. Voltemos a Robert H., que sentiu que partia em plena operação cirúrgica:

“Eu estava num túnel, viajando a uma velocidade enorme em direção a uma luz, que naquele momento não tinha grande importância. No meu trabalho, eu viajava frequentemente de avião, e já tinha participado de corridas de automóveis, o que me permitia perceber que a velocidade em que viajávamos ultrapassava, de longe, tudo o que eu já conhecera; e ela aumentava sem parar. Os muros do túnel eram uma névoa, mas quando eu olhei com mais atenção, dei-me conta de que esse túnel onde eu viajava àquela velocidade inacreditável era composto por planetas; massas sólidas, mas desfocadas pela velocidade e pela distância. Havia também um som terrível. Era como se todas as maiores orquestras do mundo tocassem ao mesmo tempo. Não havia melodia, mas era muito forte, potente, e de certa forma calmante. Era um som rápido, agitado, como algo de que eu pudesse me lembrar, muito familiar, que se encontrava em alguma parte da minha memória.

De repente, senti medo. Não tinha nenhuma ideia do lugar onde me encontrava, estava sendo levado a uma velocidade inacreditável e nada na minha vida tinha me preparado para essa aventura. No momento eu que me dei conta de que sentia medo, uma presença me atingiu; não fisicamente, mas por telepatia. Era uma presença calma e doce, que disse: "Calma, calma, está tudo bem, fique tranquilo." Esse pensamento transmitido para mim teve um efeito calmante, imediato, o mais poderoso que tudo que já conheci em minha vida estressada.

Eu me dirigia para aquela luz imensa no final do túnel, mas no instante em que ia penetrar nela, tudo ficou negro. Quando eu fecho os olhos num quarto escuro, ainda tenho a sensação de ver. Também tenho a sensação do tato e a de ter um corpo. A escuridão de que estou falando era total, sem nenhuma sensação. Minha consciência EXISTIA simplesmente. Eu existia, mas sem nenhuma outra sensação. Era absolutamente aterrador. Isso durou um momento, mas era como se fosse um dia inteiro. Então minhas sensações começaram a voltar, suavemente, e eu compreendi que elas eram unicamente positivas. Não havia mais nenhuma dor na minha perna, nem nenhum inconveniente mental ou físico. Havia, no lugar, a paz, a alegria, a harmonia e a luz. E que luz!

Eu me dava cada vez mais conta de sua presença, era uma luz dourada, e prateada, e verde e repleta de amor. Quando essas sensações se estabilizaram, e isso me pareceu que levou cem anos porque nesse lugar não havia precipitação, eu notei um ser sentado ao meu lado. Ele usava um vestido branco e era a própria paz. Fora ele quem me tranquilizara durante os últimos instantes da minha viagem, soube disso instintivamente. E ele me tranquilizava ainda. Eu sabia que ele poderia ter sido todos os amigos que eu nunca tive e todos os guias e professores de que eu poderia ter necessitado um dia. Eu sabia também que ele estaria ali se eu precisasse dele. Mas como ele tinha outros para cuidar, eu deveria me cuidar o máximo possível.

Nós estávamos sentados, um ao lado do outro, sobre um rochedo, diante da mais bela paisagem que já vi. As cores eram totalmente desconhecidas para mim, com um brilho que ultrapassava todos os meus sonhos de composição excepcional. Era extraordinariamente agradável, e não havia pressão, meu amigo me conhecia e gostava de mim mais do que eu mesmo me conhecia e me amava. Nunca senti tal energia e paz. “É realmente incrível, não é?", exclamou meu amigo, falando sobre a vista. Eu estava sentado confortavelmente com ele e admirava num silêncio indescritível. Ele disse: “Nós pensávamos ter perdido você por um momento” (...).

Enquanto eu continuava a me maravilhar com tudo aquilo que contemplava, meu amigo me sugeriu que já estava na hora de ir embora. Como eu começava a me agitar também, concordei. Imediatamente, nós mudamos de lugar. Nós escutávamos agora um coro de anjos cantando. Eles cantavam a mais adorável e mais extraordinária música que já ouvi. Eram todos idênticos, todos eles muito bonitos. Quando seu canto acabou, uma integrante do coro veio até mim para me receber. Ela era magnífica, e eu me senti extremamente atraido por ela e me dei conta então de que minha admiração só podia ser expressa de maneira totalmente não física, como um garotinho. Fiquei embaraçado com meu erro, mas não era nada grave. Tudo era perdoado naquele lugar maravilhoso.

O sentimento de que eu tinha de partir se transformou primeiro em certeza, depois em terror. Minha apreensão foi confirmada quando meu guia me disse claramente que já estava na hora de eu ir embora, mas que eu deveria me lembrar de que aquele lugar era sempre minha casa, e de que eu voltaria para ali um dia no futuro. Eu lhe disse que era impossível, para mim, voltar para aquela vida lá embaixo, depois daquela experiência, mas ele me respondeu que eu não tinha escolha, pois ainda tinha muito trabalho a fazer. Protestei, sob o pretexto de que a circunstâncias da minha vida tinham se tornado tais que eu não poderia mais continuar. E fiquei consternado com o pensamento de toda a dor mental e física que me aguardavam. Ele me pediu para ser mais preciso, e eu me lembrei de um período da minha vida em que eu enfrentei grandes dificuldades. Instantaneamente, voltei a sentir todas as emoções daquela época. Era quase insuportável. Então, com um simples gesto apenas, a dor desapareceu, para ser substituída por um sentimento glorioso de amor e de bem-estar. Esse processo foi repetido várias vezes, segundo diferentes etapas da minha vida em que eu tive dificuldades. Meu amigo então me mostrou que eu poderia conseguir fazer essas façanhas incríveis sozinho.

Ele me fez compreender que não havia nenhuma discussão possível sobre meu retorno. Regras eram regras, e eu deveria me conformar com elas. Não haveria nenhuma exceção para mim, e a auto piedade não era uma forma de expressão aceitável. Num instante, tudo desapareceu e eu vi sala de reanimação, perguntando-me do que eu deveria me lembrar. A experiência durou cinco minutos ou cinco horas.”

Trata-se, incontestavelmente, de um de nossos mais belos depoimentos sobre o anjo da guarda numa NDE (EQM). Um relato de precisão cirúrgica, que nos permite verificar um certo número de fatos. O indivíduo viaja no túnel como se estivesse fora do tempo e, no momento em que fica com medo, descobre ao seu lado uma presença que lhe fala, e cujas palavras (ou, mais exatamente, pensamentos) lhe dão um sentimento absoluto de paz e principalmente de segurança: "Esse pensamento transmitido para mim teve um efeito calmante, imediato, de longe o mais poderoso de tudo que já conheci em minha vida estressada." Esse sentimento de segurança representa um dos fatores comuns das NDE angélicas. Primeiro ato. Segundo ato: o indivíduo flutua na escuridão completa, na qual ele só tem certeza de sua existência pelo pensamento (o que nos devolve diretamente para os braços de Descartes e de seu célebre "penso, logo existo"). A escuridão se dissipa, e o indivíduo está sentado sobre um rochedo com a presença do túnel ao seu lado, envolvido numa roupa branca, transmitindo uma serenidade contagiosa.

Incrível é a certeza que nasce nele de que seu anjo da guarda poderia ter sido o amigo que nunca teve, mestre, professor... A verdadeira definição do que é um anjo da guarda.
Entretanto, o indivíduo nunca utilizou a palavra anjo, mas ser. Essa descrição, muito forte, nos faz mergulhar direto no mistério da função do anjo. É uma pura maravilha e entre os muitos livros que li sobre o tema, nenhum deles dava uma explicação tão simples, breve e fulgurante. Depois, o ser lhe diz uma frase misteriosa: "Nós pensávamos perdido por um momento." Nós, quem? Lembremos que nesse depoimento, a palavra Deus ainda não foi pronunciada. Mas após o rochedo e a cidade, o indivíduo é transportado instantaneamente pelo ser para a presença de um coro de anjos. Ali ele utiliza o termo anjo. Ele os observa atentamente: todos eles são belos, e no final, um anjo "do sexo feminino", de verdade, vem recebê-lo. Ela é tão bonita e atraente que nosso indivíduo quer, como se diz, colocar as asinhas de fora e descobre, com certo embaraço, que sua admiração só pode ser expressa de maneira não física ". É preciso ressaltar que foi esse coro de anjos, lembrando o quadro de Fra Angelico, A dança dos eleitos, que deu ao relato uma atmosfera divina.



Fonte:
Livro “Relatos sobre a existência dos Anjos da Guarda” – do jornalista Pierre Jovanovic – Editora Anagrama