quarta-feira, 18 de setembro de 2019

31º dia – Relato atual sobre os Anjos após a “quase” morte – Parte 3





Um anjo do meu lado
Este depoimento absolutamente alucinante me foi relatado por Kenneth Ring, e eu nunca poderei lhe agradecer o bastante. Trata-se de Bob H., hospitalizado em 1979, para uma cirurgia na perna, que num acidente de automóvel. Relato excepcional de um sobrevivente nunca teria imaginado que poderia descobrir horizontes semelhantes. Quanto ao seu anjo da guarda, ele se encontra no centro do relato. E nos damos conta de que nem todas as NDE se parecem. Existem, às vezes, tantas diferenças entre uma NDE e outra que nos perguntamos sobre quais critérios se baseia o Grande Organizador para dar a um apenas a visão do túnel escuro e a outros um panorama completo, com visita guiada, dos mistérios do céu. Voltemos a Robert H., que sentiu que partia em plena operação cirúrgica:

“Eu estava num túnel, viajando a uma velocidade enorme em direção a uma luz, que naquele momento não tinha grande importância. No meu trabalho, eu viajava frequentemente de avião, e já tinha participado de corridas de automóveis, o que me permitia perceber que a velocidade em que viajávamos ultrapassava, de longe, tudo o que eu já conhecera; e ela aumentava sem parar. Os muros do túnel eram uma névoa, mas quando eu olhei com mais atenção, dei-me conta de que esse túnel onde eu viajava àquela velocidade inacreditável era composto por planetas; massas sólidas, mas desfocadas pela velocidade e pela distância. Havia também um som terrível. Era como se todas as maiores orquestras do mundo tocassem ao mesmo tempo. Não havia melodia, mas era muito forte, potente, e de certa forma calmante. Era um som rápido, agitado, como algo de que eu pudesse me lembrar, muito familiar, que se encontrava em alguma parte da minha memória.

De repente, senti medo. Não tinha nenhuma ideia do lugar onde me encontrava, estava sendo levado a uma velocidade inacreditável e nada na minha vida tinha me preparado para essa aventura. No momento eu que me dei conta de que sentia medo, uma presença me atingiu; não fisicamente, mas por telepatia. Era uma presença calma e doce, que disse: "Calma, calma, está tudo bem, fique tranquilo." Esse pensamento transmitido para mim teve um efeito calmante, imediato, o mais poderoso que tudo que já conheci em minha vida estressada.

Eu me dirigia para aquela luz imensa no final do túnel, mas no instante em que ia penetrar nela, tudo ficou negro. Quando eu fecho os olhos num quarto escuro, ainda tenho a sensação de ver. Também tenho a sensação do tato e a de ter um corpo. A escuridão de que estou falando era total, sem nenhuma sensação. Minha consciência EXISTIA simplesmente. Eu existia, mas sem nenhuma outra sensação. Era absolutamente aterrador. Isso durou um momento, mas era como se fosse um dia inteiro. Então minhas sensações começaram a voltar, suavemente, e eu compreendi que elas eram unicamente positivas. Não havia mais nenhuma dor na minha perna, nem nenhum inconveniente mental ou físico. Havia, no lugar, a paz, a alegria, a harmonia e a luz. E que luz!

Eu me dava cada vez mais conta de sua presença, era uma luz dourada, e prateada, e verde e repleta de amor. Quando essas sensações se estabilizaram, e isso me pareceu que levou cem anos porque nesse lugar não havia precipitação, eu notei um ser sentado ao meu lado. Ele usava um vestido branco e era a própria paz. Fora ele quem me tranquilizara durante os últimos instantes da minha viagem, soube disso instintivamente. E ele me tranquilizava ainda. Eu sabia que ele poderia ter sido todos os amigos que eu nunca tive e todos os guias e professores de que eu poderia ter necessitado um dia. Eu sabia também que ele estaria ali se eu precisasse dele. Mas como ele tinha outros para cuidar, eu deveria me cuidar o máximo possível.

Nós estávamos sentados, um ao lado do outro, sobre um rochedo, diante da mais bela paisagem que já vi. As cores eram totalmente desconhecidas para mim, com um brilho que ultrapassava todos os meus sonhos de composição excepcional. Era extraordinariamente agradável, e não havia pressão, meu amigo me conhecia e gostava de mim mais do que eu mesmo me conhecia e me amava. Nunca senti tal energia e paz. “É realmente incrível, não é?", exclamou meu amigo, falando sobre a vista. Eu estava sentado confortavelmente com ele e admirava num silêncio indescritível. Ele disse: “Nós pensávamos ter perdido você por um momento” (...).

Enquanto eu continuava a me maravilhar com tudo aquilo que contemplava, meu amigo me sugeriu que já estava na hora de ir embora. Como eu começava a me agitar também, concordei. Imediatamente, nós mudamos de lugar. Nós escutávamos agora um coro de anjos cantando. Eles cantavam a mais adorável e mais extraordinária música que já ouvi. Eram todos idênticos, todos eles muito bonitos. Quando seu canto acabou, uma integrante do coro veio até mim para me receber. Ela era magnífica, e eu me senti extremamente atraido por ela e me dei conta então de que minha admiração só podia ser expressa de maneira totalmente não física, como um garotinho. Fiquei embaraçado com meu erro, mas não era nada grave. Tudo era perdoado naquele lugar maravilhoso.

O sentimento de que eu tinha de partir se transformou primeiro em certeza, depois em terror. Minha apreensão foi confirmada quando meu guia me disse claramente que já estava na hora de eu ir embora, mas que eu deveria me lembrar de que aquele lugar era sempre minha casa, e de que eu voltaria para ali um dia no futuro. Eu lhe disse que era impossível, para mim, voltar para aquela vida lá embaixo, depois daquela experiência, mas ele me respondeu que eu não tinha escolha, pois ainda tinha muito trabalho a fazer. Protestei, sob o pretexto de que a circunstâncias da minha vida tinham se tornado tais que eu não poderia mais continuar. E fiquei consternado com o pensamento de toda a dor mental e física que me aguardavam. Ele me pediu para ser mais preciso, e eu me lembrei de um período da minha vida em que eu enfrentei grandes dificuldades. Instantaneamente, voltei a sentir todas as emoções daquela época. Era quase insuportável. Então, com um simples gesto apenas, a dor desapareceu, para ser substituída por um sentimento glorioso de amor e de bem-estar. Esse processo foi repetido várias vezes, segundo diferentes etapas da minha vida em que eu tive dificuldades. Meu amigo então me mostrou que eu poderia conseguir fazer essas façanhas incríveis sozinho.

Ele me fez compreender que não havia nenhuma discussão possível sobre meu retorno. Regras eram regras, e eu deveria me conformar com elas. Não haveria nenhuma exceção para mim, e a auto piedade não era uma forma de expressão aceitável. Num instante, tudo desapareceu e eu vi sala de reanimação, perguntando-me do que eu deveria me lembrar. A experiência durou cinco minutos ou cinco horas.”

Trata-se, incontestavelmente, de um de nossos mais belos depoimentos sobre o anjo da guarda numa NDE (EQM). Um relato de precisão cirúrgica, que nos permite verificar um certo número de fatos. O indivíduo viaja no túnel como se estivesse fora do tempo e, no momento em que fica com medo, descobre ao seu lado uma presença que lhe fala, e cujas palavras (ou, mais exatamente, pensamentos) lhe dão um sentimento absoluto de paz e principalmente de segurança: "Esse pensamento transmitido para mim teve um efeito calmante, imediato, de longe o mais poderoso de tudo que já conheci em minha vida estressada." Esse sentimento de segurança representa um dos fatores comuns das NDE angélicas. Primeiro ato. Segundo ato: o indivíduo flutua na escuridão completa, na qual ele só tem certeza de sua existência pelo pensamento (o que nos devolve diretamente para os braços de Descartes e de seu célebre "penso, logo existo"). A escuridão se dissipa, e o indivíduo está sentado sobre um rochedo com a presença do túnel ao seu lado, envolvido numa roupa branca, transmitindo uma serenidade contagiosa.

Incrível é a certeza que nasce nele de que seu anjo da guarda poderia ter sido o amigo que nunca teve, mestre, professor... A verdadeira definição do que é um anjo da guarda.
Entretanto, o indivíduo nunca utilizou a palavra anjo, mas ser. Essa descrição, muito forte, nos faz mergulhar direto no mistério da função do anjo. É uma pura maravilha e entre os muitos livros que li sobre o tema, nenhum deles dava uma explicação tão simples, breve e fulgurante. Depois, o ser lhe diz uma frase misteriosa: "Nós pensávamos perdido por um momento." Nós, quem? Lembremos que nesse depoimento, a palavra Deus ainda não foi pronunciada. Mas após o rochedo e a cidade, o indivíduo é transportado instantaneamente pelo ser para a presença de um coro de anjos. Ali ele utiliza o termo anjo. Ele os observa atentamente: todos eles são belos, e no final, um anjo "do sexo feminino", de verdade, vem recebê-lo. Ela é tão bonita e atraente que nosso indivíduo quer, como se diz, colocar as asinhas de fora e descobre, com certo embaraço, que sua admiração só pode ser expressa de maneira não física ". É preciso ressaltar que foi esse coro de anjos, lembrando o quadro de Fra Angelico, A dança dos eleitos, que deu ao relato uma atmosfera divina.



Fonte:
Livro “Relatos sobre a existência dos Anjos da Guarda” – do jornalista Pierre Jovanovic – Editora Anagrama



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