quinta-feira, 22 de agosto de 2019

8º dia – Catequeses do Papa São João Paulo II sobre os Anjos (3ª Catequese: CRIADOR DAS COISAS "INVISIVEIS": OS ANJOS)





Audiência do dia 30 de julho de 1986 (Publicada no L´OSSERVATORE ROMANO, ed. port., no dia 3 de agosto de 1986.)

1. Na catequese passada detivemo-nos sobre o artigo do credo com o qual proclamamos e confessamos Deus criador não só de todo o mundo criado, mas também das "coisas invisíveis", e tratamos o argumento da existência dos anjos chamados a declarar-se por Deus ou contra Deus com um ato radical e irreversível de adesão ou de rejeição da sua vontade de salvação. Ainda segundo a Sagrada Escritura, os anjos, enquanto criaturas puramente espirituais, apresentam-se à reflexão da nossa mente como uma especial realização da "imagem de Deus", Espírito perfeitíssimo, como Jesus mesmo recorda à samaritana com as palavras: "Deus é espírito" (Jo 4,24). Os anjos são, sob este ponto de vista, as criaturas mais próximas do modelo divino. O nome que a Sagrada Escritura lhes atribui indica que aquilo que mais conta na Revelação é a verdade acerca das tarefas dos anjos em relação aos homens: anjo (angelus) quer dizer, com efeito, "mensageiro". O hebraico "malak", usado no Antigo Testamento, significa mais propriamente "delegado" ou "embaixador". Os anjos, criaturas espirituais, têm função de mediação e de ministério nas relações mantidas entre Deus e os homens. Sob este aspecto, a carta aos Hebreus dirá que a Cristo foi dado um "nome", e por conseguinte um ministério de mediação, muito mais excelso que o dos anjos (cf. Hb. 1,4).

 2. O antigo testamento salienta sobretudo a especial participação dos anjos na celebração da glória que o criador recebe como tributo de louvor da parte do mundo criado. São de modo especial os Salmos que se fazem intérpretes desta voz, quando, por exemplo, proclamam: "Louvai o Senhor, do alto dos céus, louvai-o nas alturas do firmamento, louvai-o, Vós todos os seus anjos (S1148,1´2). E de modo idêntico o Salmo 102 (103): "Bendizei o Senhor, Vós todos os Seus anjos, que sois poderosos em força, que cumpris as Suas ordens, sempre dóceis à Sua palavra" (SI 102/103,20). Este último versículo do Salmo 102 indica que os anjos tomam parte, do modo que lhes é próprio, no governo de Deus sobre a criação, como "poderosos"... que cumprem as suas ordens segundo o plano estabelecido pela Divina Providência. Em particular estão confiados aos anjos um cuidado especial e solicitude pelos homens, em nome dos quais apresentam a Deus os seus pedidos e as suas orações, como nos recorda, por exemplo, o Livro de Tobias (cf. especialmente Tb. 3,17 e 12,12), enquanto o Salmo 90 proclama: "Mandou os Seus anjos... Eles te levarão nas suas mãos, para que não tropeces em pedra alguma" (cf. Sl. 90/91,11´12). Seguindo o livro de Daniel pode-se afirmar que as tarefas dos anjos, como embaixadores do Deus vivo, abrangem não só os homens individualmente e aqueles que têm especiais tarefas, mas também nações inteiras (Dn. 10,13´21).

 3. O Novo Testamento põe em realce as tarefas dos anjos em relação à missão de Cristo como Messias, e primeiro que tudo em relação ao mistério da encarnação do Filho de Deus, como verificamos na descrição do anúncio do nascimento de João, o Batista (cf. Lc. 1,11), na do próprio Cristo (cf. Lc 1,26), nas explicações e disposições dadas a Maria e a José (cf. Lc. 1,30´37; Mt. 1,20´21), nas indicações dadas aos pastores na noite do nascimento do Senhor (cf. Lc. 2,9´15), na proteção ao recém-nascido perante o perigo da perseguição de Herodes (cf. Mt. 2,13). Mais adiante os Evangelhos falam da presença dos anjos durante os 40 dias de jejum de Jesus no deserto (cf. Mt. 4,11) e durante a oração no Getsêmani (I´c 22,43). Depois da ressurreição de Cristo será ainda um anjo, sob a aparência de um jovem, que dirá às mulheres que tinham ido ao sepulcro e ficaram surpreendidas por o encontrar vazio: "Não vos assusteis. Buscais a Jesus de Nazaré, o crucificado. Ressuscitou, não está aqui... Ide, pois, dizer aos Seus discípulos..." (Mc. 16,5´7). Dois anjos foram vistos também por Maria Madalena, que é privilegiada com uma aparição pessoal de Jesus (Jo. 20,12´17; cf. também Lc. 24,4). Os anjos apresentam-se aos apóstolos depois de Cristo desaparecer, para lhes dizer: "Homens da Galiléia, por que estais assim a olhar para o céu? Esse Jesus, que vos foi arrebatado para o céu, virá da mesma maneira, como agora O vistes partir para o céu" (At. 1,10´11). São os anjos da vida, da paixão e da glória de Cristo. Os anjos dAquele que, como escreve São Pedro, "subiu ao céu, e está sentado à direita de Deus, depois de ter recebido a submissão dos anjos, dos principados e das potestades" (l Pd. 3,22).

 4. Se passamos à nova vinda de Cristo, isto é, à "Parusia", encontramos que todos os sinóticos narram que "o Filho do Homem... virá na glória de Seu Pai, com os santos anjos" (tanto Mc. 8,38; como Mt. 16,27; e Mt. 25,31 na descrição do juízo final; e Lc. 9,26; cf. também São Paulo, 2Ts. 1,7). Pode-se portanto dizer que os anjos, como puros espíritos, não só participam, do modo que lhes é próprio, da santidade de Deus mesmo, mas nos momentos chaves rodeiam Cristo e acompanham-no no cumprimento da sua missão salvífica em relação aos homens. Igualmente ao longo dos séculos, também toda a Tradição e o magistério ordinário da Igreja atribuíram aos anjos este particular caráter e esta função de ministério messiânico. 



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